Religioso está preso e internado em estado grave num hospital no Recife.
Por g1 PE e TV Globo
26/07/2023 04h01 Atualizado há uma hora
Mulher que denunciou Padre Airton Freire — Foto: Reprodução/TV Globo
“Eu nunca mais entrei na igreja. Nunca mais consegui olhar para um padre, porque toda vez que eu olho para um padre, vejo Padre Airton se masturbando. Eu não consigo mais confiar na Igreja Católica. Ele tirou isso de mim”.
A frase é de uma das pessoas que denunciaram o Padre Airton Freire, acusado de estupros na Fundação Terra, em Arcoverde, no Sertão de Pernambuco. A vítima, que não quis se identificar, foi uma das cinco a fazerem denúncias contra o religioso. A defesa nega as acusações.
Entre as que foram identificadas, também há a personal stylist Silvia Tavares, a primeira a vir a público, e um ex-funcionário que afirmou ter sido dopado e estuprado.
Padre Airton foi preso preventivamente no dia 14 de julho, e está internado em estado grave num hospital no Recife, com “princípio de acidente vascular cerebral (AVC)”. Dois funcionários dele estão foragidos. Um não teve o nome divulgado e o outro é Jailson Leonardo da Silva, suspeito de estuprar Silvia Tavares no dia 18 de agosto de 2022.
A mulher que não se identificou contou que a violência aconteceu cerca de um ano e meio antes de Silvia Tavares ser estuprada. Ela contou que, após ser levada por um funcionário da Fundação Terra até a “casinha”, um casebre com telhado de palha onde o religioso dormia, Padre Airton pediu para ela fazer uma massagem nele.
Lá, segundo ela, o padre se masturbou, enquanto o funcionário, que trabalhava no canil, alisava o corpo do religioso. Ele pediu várias vezes que a mulher tirasse a roupa e deitasse com eles, mas ela conseguiu fugir.
“Ele não me penetrou. Ele não estuprou meu corpo. Ele estuprou a minha alma. Ele violentou o que é nosso, o que a gente nasce com a gente, que é a fé. Ele violentou minha fé de uma forma brutal”, disse a mulher.
A mulher contou que conheceu o Padre Airton há mais de dez anos, através de uma amiga, que a convidou para um retiro espiritual. Ela contou que ficou impressionada com o religioso, e se encantou com o trabalho desenvolvido pela Fundação Terra, que desenvolve projetos sociais desde 1984.
“Cada vez mais eu sentia necessidade de ir. Eu comecei a ajudar a obra com que eu podia, descontava do meu cartão de crédito mensalmente. Fui aumentando os valores e, o que eu podia fazer, eu queria levar e levar mais pessoas, eu fiz. Fiz meu filho ir… Eu acreditava tanto nele, mas tanto, que me dói a cegueira”, afirmou.
A vítima também disse que sente culpa por não ter denunciado o caso antes, para evitar que outras pessoas tivessem sido vítimas do religioso. Ela se dirigiu à personal stylist Silvia Tavares.
“Silvia, você não é louca. Você não é desequilibrada. […] Esta vai ser uma culpa que eu acho que vou carregar pela minha vida toda, de não ter tido a coragem que você teve, de mostrar ao mundo quem ele é. O monstro que ele é, o abusador, o estuprador que ele é. Eu queria lhe pedir perdão do fundo do meu coração, porque se eu tivesse tido a coragem que você teve, se eu não tivesse tido a vergonha, não tivesse me achado louca, talvez eu pudesse ter evitado o que aconteceu com você, porque o que aconteceu com você aconteceu comigo um ano antes”, afirmou.
Defesa do padre
Imagem de arquivo mostra o Padre Airton Freire na Fundação Terra — Foto: Reprodução/Fundação Terra
Por meio de nota, a defesa do padre Airton afirma que ele reitera ser “inocente” das acusações. Os advogados dizem que vão tentar conseguir um habeas corpus para o padre, e afirmam não terem tido acesso aos autos da investigação.
Eles também consideram que a prisão preventiva de Padre Airton não tem pré-requisitos legais, e que ela “contraria todas as previsões da legislação brasileira e até do direito internacional”.
“Airton Freire é um homem de 67 anos com sérias restrições de saúde. Desde que começou a ser alvo das acusações que refuta, afastou-se das funções eclesiásticas e da presidência da Fundação Terra, onde desenvolveu um trabalho social que atendeu milhares de pessoas nos últimos 40 anos. Além disso, manteve-se isolado e jamais incentivou manifestações ou atos que prejudicassem as investigações, apesar de receber o apoio voluntário de milhares de fiéis. E, por último, apresentou-se espontaneamente às autoridades quando da decretação da prisão preventiva”, afirma.
Os advogados do padre também dizem que ele não atrapalhou as investigações, não coagiu testemunhas e que não há perigo de “eventuais práticas criminosas que possam pôr em risco as supostas vítimas”.
“Os relatos levados às autoridades policiais remetem a supostos episódios de quase um ano atrás ou mais antigos, não sendo recentes para justificar uma prisão”.
Relembre o caso
- Em maio, Silvia Tavares de Souza denunciou que foi estuprada pelo motorista de padre Airton, Jailson Leonardo da Silva, a mando do religioso;
- Segundo Silvia Tavares, o estupro aconteceu no dia 18 de agosto de 2022, em uma propriedade da Fundação Terra;
- Desde a denúncia, Padre Airton está suspenso das atividades religiosas;
- Padre Airton foi preso na sede da Fundação Terra, em Arcoverde, após o cumprimento de um mandado de prisão preventiva.