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Fim da ‘Paixão’ gera protestos na web; Sesc cancelou peça após fala de padre

06/04/2015 

Instituição promovia ‘Horizonte da Paixão’ há 15 anos em Arcoverde, PE.
Protagonista fala em ‘censura’ e ‘ameaças’ sofridas; religioso nega boicote.

Thays EstarqueDo G1 Caruaru

Artista apoia protesto  (Foto: Alberto Carvalho/ Arquivo Pessoal )Artista Alberto Carvalho apoia movimento de atores
(Foto: Alberto Carvalho/ Arquivo Pessoal )

Artistas, produtores culturais e simpatizantes estão compartilhando na internet fotos e textos em protestos contra a suspensão do espetáculo “Horizonte da Paixão”, em Arcoverde, Sertão de Pernambuco. A montagem foi retirada da programação da unidade local do Serviço Social do Comércio (Sesc) após receber críticas do padre Aldilson Simões, em um programa da rádio local.

A peça, que também tem o apoio da prefeitura, só teve uma apresentação, na quinta (2), realizada em áreas públicas da cidade. O roteiro traz uma releitura da Paixão de Cristo, incluindo um Jesus vestindo jeans, tribunal de engravatados, diálogos feministas e crucificação de pessoas consideradas marginalizadas na sociedade, segundo o elenco. O religioso não assistiu à peça nem ao ensaio, porém, fez o pronunciamento contrário no dia seguinte à encenação.

Padre há 39 anos, Adilson Simões, 65 anos, além de administrar o Santuário da Divina Misericórdia, em Serra das Varas, mesmo município, comanda o programa “Sementes de Meditação”, que vai ao ar toda sexta-feira há mais de 20 anos. Ele confirma que não assistiu à apresentação, mas diz que recebeu alguns fiés reclamando. “Vieram até mim indignados, achando que a peça pisoteou o sentimento religioso da população”.

Com isso, o sacerdote sentiu a obrigação de fazer o pronunciamento contra e nega qualquer tipo de boicote. “Qual o cidadão que não tem o direito de protestar?”, questiona Adilson, que foi orientado pela assessoria jurídica da Igreja a se portar diante do fato como um morador, despido da função clerical. O padre ainda explica que a encenação teve início na paróquia há mais de 30 anos e que depois passou para o Sesc. “Banalizaram a Eucaristia. O espetáculo feriu o sentimento religioso do povo e a palavra de Jesus”, acredita.

‘Contra Censura Arcoverde’
Em uma página da internet, o grupo de atores divulgou uma carta aberta como forma de manifesto contra a atitude do padre. Intérprete de Cristo desde 2009, Djaelton Quirino, de 28 anos, fala em nome do movimento “Contra Censura Arcoverde”. “Ele [o pácoro] criou uma situação difícil tanto com a comunidade artística, quanto com a religiosa. Nosso protesto é contra Adilson Simões, o homem, não o representante da igreja, e tudo que ele falou sem saber”, coloca.

Elenco de Horizontes da Paixão posa em alusão a censura  (Foto: Alberto Carvalho/ Arquivo Pessoal)Elenco de ‘Horizonte da Paixão’ posa em alusao à ‘censura’ (Foto: Alberto Carvalho/ Arquivo Pessoal)

Sendo apresentado há 15 anos, não seria a primeira vez que o projeto recebe duras críticas do sacerdote. “Isso sempre aconteceu, porém, ficou mais sério ano passado, por causa da cena do Bacanal de Herodes. Nós até mudamos, adaptamos neste ano, já para não ofender ninguém”, explana Quirino. O ator ainda explica que o objetivo é aproximar a história do público, sobretudo os jovens, trazendo uma reflexão para a atualidade.

“Tem pessoas que trabalham desde o início. Como elas ficam? Era uma fonte de renda extra para elas”, desabafa Djaelton, dizendo que não só a peça foi cancelada, como todo o projeto. Alguns artistas estão sofrendo também ameaças desde o ocorrido.

Nota oficial do Sesc
“A Direção do Sesc Pernambuco, entidade laica e privada, sem qualquer vinculação política ou religiosa, informa à comunidade de Arcoverde e região que o espetáculo ‘Horizonte da Paixão’, promovido pelo Sesc há 15 anos, tem a natureza puramente artística. Por outro lado, a direção, com a intenção de evitar qualquer interpretação, desrespeito e intolerância às crenças e valores éticos e morais do cristianismo, e à forte tradição da celebração da Semana Santa, profundamente arraigada na cultura do povo brasileiro, determina a suspensão do espetáculo″.

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