13/04/2015
Crime ocorreu em Poção, vitimando uma idosa e três conselheiros tutelares.
Pai e avó paterna da criança já estão presos; um suposto executor também.
(Foto: Reprodução/ TV Asa Branca)
Um advogado foi preso por suspeita de envolvimento na chacina que vitimou três conselheiros tutelares e uma idosa em Poção, Agreste pernambucano, no dia 6 de fevereiro. O procedimento ocorreu no sábado (11) em Arcoverde, no Sertão, após mandado judicial. As informações são da assessoria de imprensa da Polícia Civil, que não passou mais detalhes oficiais. Na próxima semana, haverá uma coletiva para expor todo o caso.
Dois supostos mandantes do crime já estão presos. Uma é Bernadete de Lourdes Britto Siqueira Rocha, de 52 anos, avó paterna de uma menina que sobreviveu à chacina. Ela foi presa no dia 27 de fevereiro e, em outra ocasião, teria também participado do envenenamento da nora, Jucy Venâncio de Britto Siqueira, mãe da criança. Com um mandando de busca e apreensão, policiais entraram na casa da suspeita, em Arcoverde, e acharam documentos que a relacionam a este caso, ainda segundo a assessoria.
O filho dela, José Cláudio de Britto Siqueira Filho, de 32 anos, é igualmente suspeito de ser mandante da chacina e foi preso na mesma data. Já no dia 28 do mesmo mês, foi preso um homem de nome e idade não informados que seria um dos executores do crime.
Entenda o caso
As vítimas estavam em um carro do Conselho Tutelar do município com uma menina de 3 anos, única sobrevivente. Eles vinham da casa da avó paterna da criança, situada em Arcoverde, no Sertão, a cerca de 70km de Poção.
Segundo o avô materno, João Batista, as famílias dividiam a guarda da criança. O pai e a avó paterna cuidavam dela durante a semana e, nos fins de semana, a menina ficava com os avós maternos.
A senhora que morreu na chacina era Ana Rita Venâncio, esposa de João Batista e avó da criança.
As primeiras informações obtidas pela Polícia Militar apontam para uma emboscada contra as vítimas, na estrada do Sítio Cafundó, por ondeos cinco passavam de carro. “Primeiro, atiraram no motorista, depois nas mulheres que estavam no banco de trás e à queima roupa em um deles [conselheiro] que tentou escapar”, informou a PM ao G1.
Os conselheiros eram Carmem Lúcia da Silva, de 38 anos, José Daniel Farias Monteiro, de 31, e Lindenberg Nóbrega de Vasconcelos, de 54. Uma equipe do Instituto Médico Legal (IML) de Caruaru esteve no local e recolheu os corpos.
Inicialmente, havia a informação de que a criança teria sido ferida à bala na confusão, mas, no hospital, informaram que o sangue que a sujava não era dela. A menina está em um local não divulgado, por questão de segurança.
O avô materno disse que, no dia do crime, a avó e o pai mudaram repentinamente o horário que eles costumavam pegar a menina para passar o fim de semana. “A gente era para pegar a criança às 11h30 no colégio e entregar na segunda, de 7h30. Só que, essa semana, eles mesmo mudaram. (…) Mudou para gente ir pegar de 17h”, relata. Segundo ele, há mais de dois anos as famílias compartilham a guarda da criança.
A PM comunicou, no dia 7, que nem o pai nem a avó paterna foram localizados. A mãe da criança já é falecida, segundo a corporação.
Várias equipes à disposição
O governo do estado designou várias equipes da Polícia Civil especializada em homicídios, cada uma com um delegado, para apurar o caso. “Todo o efetivo da Polícia Militar da região se encontra à disposição da Polícia Civil para eventuais diligências que contribuam para o esclarecimento do caso. A determinação expressa do governador Paulo Câmara é que o crime seja rapidamente elucidado e para isso recomendou todos os esforços do estado”, ressaltou a assessoria de imprensa do governo de Pernambuco.
Na imagem, Câmara está ao lado do padre e do secretário Isaltino (Foto: Amanda Dantas/ TV Asa Branca)
Governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB) acompanhou no dia 8 o velório das quatro vítimas da chacina. Com o secretário Alessandro Carvalho, da pasta de Defesa Social, o gestor cumprimentou as famílias. Uma multidão acompanhou o momento, desde o Centro Catequético até o sepultamento, no cemitério local. Também estiveram na cidade o secretário Isaltino Nascimento, de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude, e conselheiros tutelares do estado e da Paraíba.
À ocasião, Câmara falou que três equipes de polícia estão à frente das investigações, em vez de quatro, como dito anteriormente. O delegado Darley Timóteo informou ao G1 que houve uma adequação à nova realidade. “A gente está é agregando outras pessoas, outros policiais. Na verdade, no primeiro dia, primeiro momento, os profissionais da região foram para lá. O governador falou em três equipes porque houve um redimensionamento de forças, porque a gente está aprimorando. Não adianta ter cinco ou seis equipes, mas sem estar se movimentando”, declarou.
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Timóteo informou ainda que ele e o delegado regional Eronildo Rodolfo de Farias, de Belo Jardim, estão coordenando o caso, enquanto o chefe de polícia Erik Lessa continua à frente dos procedimentos. A Polícia Civil informou que o inquérito está sob sigilo para não comprometer as investigações e que não divulgará informações sobre o caso.
À época, o prefeito do município decretou luto oficial. A ministra Ideli Salvatti divulgou nota de pesar na página da Secretaria de Direitos Humanos lamentando as mortes.
Mobilização de conselheiros
Conselheiros tutelares de Pernambuco se reuniram no dia 12 em uma mobilização que pediu por mais segurança para os profissionais da área. O ato, realizado na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), no Recife, ocorreu em memória dos conselheiros tutelares assassinados em Poção.
O Governo de Pernambuco admite que o setor precisa de melhorias e quer abrir o diálogo. “Nós estamos propondo, em março, um fórum, onde vamos reunir todos os municípios do estado com a representação de todos os conselheiros, com a participação do governo federal, das prefeituras, do Ministério Público e do judiciário e do Governo do Estado”, aponta o secretário de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude do estado, Isaltino Nascimento.
O coordenador-geral de Política de Fortalecimento dos Conselhos da Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal, Marcelo Nascimento, também participou da reunião e destacou que a secretaria quer mudanças para garantir a segurança dos conselhos. “Um grupo de trabalho, nos próximos 60 dias, irá propor um manual de procedimento e um protocolo de segurança para os conselheiros tutelares de todo o país”, afirmou.
Retorno às atividades
O Conselho Tutelar de Poção voltou a funcionar oficialmente no dia 19. “Não está sendo nada fácil, porque aqui tem a lembrança dos outros e como eu trabalhei um mês com eles, fica difícil, mas a gente tem que tentar voltar à rotina”, relata a conselheira tutelar Izabel Delmiro. Ela, Antônio Donizete da Silva e Eliseu Xavier Bezerra tomaram posse no dia 13 e cumprirão o mandato até outubro, quando ocorrerão novas eleições.