Home / Destaque / Psicóloga entrevistA serial killers para LIVRO

Psicóloga entrevistA serial killers para LIVRO

22/03/2016

‘Para eles, o assassinato é arte’, diz psicóloga que entrevistou serial killers

Tese de doutorado virou livro sobre ‘Chico Picadinho’ e ‘Vampiro de Niterói’.
Chico esquartejou mulheres e ‘vampiro’ matou e bebeu sangue de 14 crianças.

Joalline NascimentoDo G1 Caruaru

Tese de doutorado da professora Marcela Monteiro rendeu o livro Assassinos Seriais – o poder da sideração e do superego arcaico (Foto: Matheus Britto/Divulgação)Tese de doutorado da professora Marcela Monteiro rendeu o livro ‘Assassinos Seriais – o poder da sideração e do superego arcaico’ (Foto: Matheus Britto/Divulgação)

Com o objetivo de concluir a tese de doutorado pela Pontifíca Universidade Católica (PUC) de São Paulo, a psicóloga e professora pernambucana Marcela Monteiro ficou frente a frente com dois assassinos em série que cometeram crimes de repercussão nacional. “Chico Picadinho“, que matou e esquartejou duas mulheres, e o “Vampiro de Niterói“, que matou, violentou e bebeu o sangue de 14 crianças.

“Francisco falou que ‘tirou do mundo pessoas que não eram boas para a sociedade’. Por outro lado, Marcelo (o ‘vampiro’) alegou que matou crianças porque ‘estava as enviando para o céu porque elas não eram pecadoras’. Os crimes deles são motivados por fantasias. Para eles, o assassinato é arte”, falou a professora.

Chico Picadinho foi um dos detentos recebidos pela Casa de Custódia de Taubaté. (Foto: Reprodução/ TV Vanguarda)`Chico Picadinho, que hoje tem 73 anos, está na
Casa de Custódia de Taubaté (Foto: Reprodução/
TV Vanguarda/Arquivo)

A tese transformou-se no livro “Assassinos Seriais – o poder da sideração e do superego arcaico”. A pesquisa para a obra levou seis anos. O lançamento foi realizado na noite de segunda-feira (21), no Recife. Na análise, a pesquisadora percebeu que ambos querem que as pessoas reconheçam os atos deles. Eles justificam os crimes dizendo que “limparam da humanidade seres que são inferiores”, como destacou Marcela.

Na pesquisa, ela entrevistou e realizou uma análise psicanalítica para tentar compreender a personalidade deles. Sobre as conversas com “Chico Picadinho” e o “Vampiro de Niterói”, a psicóloga disse ao G1: “Fiquei chocada com as histórias que ouvi”. Ela contou que ambas as histórias foram marcantes para a pesquisa. “Todos são chocantes. Não tem um que seja mais do que o outro”.

Vampiro de Niterói foi preso aos 25 anos e hoje está em um Manicômio Judiciário (Foto: Reprodução/TV Globo)‘Vampiro de Niterói’ foi preso aos 25 anos e hoje
está em Manicômio Judiciário (Foto:
Reprodução/TV Globo/Arquivo)

Marcela explicou que para conseguir entrevistar os assassinos houve uma burocracia muito grande. Isso porque Marcelo da Costa Andrade, de 49 anos, conhecido como “Vampiro de Niterói”, está internado em um manicômio judiciário do Rio de Janeiro; enquanto Francisco Costa Rocha, de 73 anos, o “Chico Picadinho”, está na Casa de Custódia de Taubaté, em São Paulo.

“Há todo um processo legal para conseguir ter acesso a essas pessoas. Eu precisei entrar em contato com os diretores dos locais e conversei com os assassinos normalmente, em uma sala, como se fosse uma entrevista. Estávamos só eu e eles. Não havia mias ninguém no local para fazer a segurança”, ressaltou.

A psicóloga destacou que os acusados falam dos crimes abertamente, sem nenhum tipo de remorso ou culpa. “Eles têm um prazer muito grande de relatar os fatos. É como se fosse uma tentativa de chocar as pessoas relatando esses fatos de forma tão fria. Essa frieza foi o que me levou a fazer esse estudo. Sempre me chamou muita atenção por eles serem tão cruéis. Porque eles não só matam, mas torturam também”, destacou Marcela.

Eles têm um prazer muito grande de relatar os fatos. É como se fosse uma tentativa de chocar as pessoas relatando esses fatos de forma tão fria”
Marcela Monteiro, sobre os crimes

Ao G1, a pesquisadora explicou que ao fazer a análise percebeu que os assassinos praticaram os crimes com base no que viveram no passado. “Os alvos de Marcelo eram as crianças de rua porque ele também morou nas ruas durante a infância. Eles as estuprava porque também passou pela mesma situação. Ele repetiu a história como forma de lidar com as questões internas. Já Francisco tinha um histórico de situações difíceis com as mulheres. Ele foi abandonado por algumas, e violentado na adolescência”, detalhou.

Curiosidade das pessoas
Durante a pesquisa, Marcela Monteiro observou que apesar de ser muito chocante, as pessoas têm uma tendência maior de ouvir esses assassinos e querer saber mais das histórias deles. “É uma curiosidade que todos têm por eles serem muito inteligentes”, afirmou a professora.

‘Poder de hipnotizar’
Como professora e doutora em psicologia, Marcela constatou que assassinos em série como Fernando e Marcelo têm “um grande poder de discusar e são muito egocêntricos e vaidosos”. Ela destacou que eles não pegavam as vítimas à força porque elas se sentiam atraídas com o que ouviam deles. “Pessoas como Chico e o Vampiro são muito convincentes e têm um certo poder de hipnotizar as pessoas. O psiquismo deles é tão potente que deixa o nosso um pouco anestesiado”, falou.

Para o G1, Marcela deixou claro que Franciso foi diagnosticado com o transtorno de personalidade antissocial, que antes era chamado de psicopatia. Por outro lado, Marcelo apresenta o quadro de esquizofrenia paranoide e traços do transtorno antissocial, conforme informou a psicóloga. “Apesar de doentes, eles praticavam os crimes de forma consciente. Sabem que é algo errado, mas eles não se sentem submissos a nenhuma lei. O mais importante é o prazer deles. É como se eles estivessem acima do que é certo e errado”, explicou.

Livro traz análise psicanalítica de Chico Picadinho e Vampiro de Niterói (Foto: Reprodução )Livro traz análise psicanalítica de Chico Picadinho e Vampiro de Niterói (Foto: Reprodução)

“Chico Picadinho”
O primeiro crime de Francisco Costa Rocha, o “Chico Picadinho”, ocorreu em agosto de 1966,  em um apartamento da Rua Aurora, no Centro de São Paulo. Naquele dia, a bailarina austríaca Margareth Suida, de 38 anos, foi estrangulada e teve o corpo retalhado em vários pedaços. Ao ser interrogado, ele descreveu em detalhes como esquartejou a vítima utilizando tesoura, faca e lâmina de barbear. Questionado sobre a motivação do crime, Chico disse que a bailarina lembrava sua mãe. Por esse crime, foi condenado a 20 anos e meio de prisão.

Em junho de 1974, teve a liberdade condicional concedida pela Justiça e, em outubro de 1976, em um apartamento na Avenida Rio Branco, matou Ângela de Souza da Silva e retalhou o corpo da mulher, com serrote, faca e um canivete. Os membros foram acondicionados em uma mala de viagem e algumas partes que não couberam foram jogadas no vaso sanitário do banheiro do apartamento. Chico fugiu de São Paulo, mas foi encontrado e preso em Caxias, no Rio de Janeiro.

“Vampiro de Niterói”
Em 1992, Marcelo da Costa de Andrade, de 25 anos, confessou à polícia ter matado 14 crianças após obrigá-las a praticar sexo com ele em Niterói e municípios próximos, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Oito casos foram confirmados pela polícia. Os crimes aconteceram entre abril e dezembro de 1991. Por causa da brutalidade dos assassinatos, ele ficou conhecido como o “Vampiro” ou “Maníaco” de Niterói.

Deixe seu Comentário

Your email address will not be published. Required fields are marked *

*

Scroll To Top