Dois netos do dono desta Fazenda JENIPAPO em Sanharó-PE. Este primeiro (Domingos Souza Leão) nascido na própria Fazenda e o outro (Francisco Xavier Paes Barreto), nascido em uma fazenda vizinha (conhecida por Poço de Patos, localizada na estrada da atual Cidade de Poção-PE).
Domingos de Sousa Leão
Retrato do ministro no Itamaraty
Nascimento 16 de dezembro de 1819
Fazenda Jenipapo, Sanharó, Pernambuco
Sucedido por
Anselmo Francisco Peretti
Morte 18 de outubro de 1879 (59 anos)
Rio de Janeiro
Presidente da província de Pernambuco
1867 — 1868
Nacionalidade Brasileiro
Ministro das Relações Exteriores do Brasil
1878 — 1879
Ocupação Político
Francisco Xavier Pais Barreto
Nascimento 17 de setembro de 1821
Cimbres, província de Pernambuco, Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves
Morte 28 de março de 1864 (42 anos)
Rio de Janeiro, Município Neutro, Império do Brasil
Posições que o Francisco Xavier Paes Barreto ocupou:
Presidente da Província do Ceará
1855 — 1856
Presidente da Província do Maranhão
1857 — 1858
Presidente da Província da Bahia
1858 — 1859
Ministro da Marinha do Brasil
1859 — 1861
Ministro das Relações Exteriores do Brasil
1864
A minha viagem não foi para muito longe de casa, apenas me distanciei 24 km do meu lar. Porém, a viagem emocional e cognitiva que fiz ao chegar a este destino me levou a ultrapassar as “Barreiras do Tempo” nos “Caminhos do meu Pensamento”. Foi como um filme observar todo o monumento de perto, esta imponente Fazenda Jenipapo e a sua Capela ao lado (dedicada ao Santo Antônio, da devoção do Capitão-mor Antônio dos Santos Coelho), fez-me lembrar das muitas leituras que fizera sobre este lugarejo tão especial (que era parte de Cimbres e depois passou a ser de Pesqueira e agora é de Sanharó). Local este que outrora foi o “Berço” de grandes Aristocratas da Colônia como os apresentados acima. Lembrei que nesta Fazenda viveram centenas de escravos, que nela o Capitão-mor criou suas seis sinhazinhas moças, que se apaixonaram por Nobres Jovens Burgueses da época (que vinham de longe para conhecê-las e pedir as “mãos” delas em casamento). É quase inacreditável saber que foi daqui (desta fazenda entre os montes) que aqueles casais formados com as filhas do proprietário, o Capitão-mor Antônio dos Santos Coelho, foram os responsáveis pela fundação de fazendas que deram origem a importantes cidades do nosso estado Pesqueira, Poção, Belo Jardim e o Brejo da Madre de Deus a exemplo. Mas a verdade é que estas cidades foram erguidas a partir das primeiras residências que pertenceram às meninas deste Casarão.
Duas daquelas sinhazinhas, que se criaram neste formoso Casarão (que hoje se encontra fechado no meio do pequeno vilarejo) surpreendentemente, se tornaram as mães de homens que tiveram grande projeção política dentro do contexto da Histórico Colonial do nosso Brasil. Um deles ficou órfão de mãe ainda muito novinho (aos 10 anos de idade) com a tragédia ocorrida na família por disputa de poderes entre os concunhados Manoel e Francisco (o assassinato de sua mãe aconteceu na fazenda Poço de Patos, que outrora existia as margens da estrada de Poção-PE) este menino quando adulto tornou-se, simplesmente, Presidente de algumas Províncias. Seu nome? Francisco Xavier Paes Barreto, o mesmo nome do seu Pai.
Neste domingo (10/09/2017) quando estive ali na fazenda Jenipapo, esta emprisionante edificação do início do século XIX pertencente ao Avô deste meu xará “Francisco”, as lembranças (de leituras) me fizeram recordar muita coisa sobre a família como se eu estivesse vivenciado com eles na época. Pois, tudo passou em minha fértil memória como se fosse um slide rodando em minha mente e lembrei-me do outro neto (do Proprietário da Fazenda) que nascerá nela, o menino que se tornou o Barão de Vila Bela, o nome de registro dele era Domingos Souza Leão.
Ao observar de perto as dez janelas frontais deste arrebatador Casarão da Fazenda Jenipapo, elevei os olhos até a placa da data de sua edificação (1806) registrada na frente da igrejinha. Confesso-lhes, que ali eu respirei uma boa parte da História misturando as imagens mentais com o aroma da vegetação local, que provavelmente deve conservar o mesmo cheiro da época (pois acredito que a vegetação local não mudou muito) talvez tivesse na época uma mistura dos antigos cheiros do Melaço, do Café, da Rapadura e dos Queijos que os escravos produziam naquele tempo. Mas tudo agora estava parado, como uma fotografia antiga, mostrando alguns desgastes do tempo.
A imaginação foi muito longe e passou sobre as festas de casamentos que foram realizadas na velha igrejinha (que penso eu que tenham sido as mais belas e as mais emocionantes daqueles dias na Região), pensei em quase tudo: nas colheitas festivas, nas novenas e nas crenças cheias de fé e superstições devido às lendas indígenas e os cultos africanos, que provavelmente aconteciam às escondidas ou realizados em um reservado cantinho de rezas na própria Senzala.
Realmente, eu viajei no “Calendário do Tempo” e, naquele momento, me deparei pensando… e me perguntando, qual das dez janelas seria a favorita ou a escolhida pela menina Ana Clara, esposa do fundador da Fazenda Poço Pesqueiro (que deu origem a nossa Cidade), para observavar ou esperar a chegada do seu querido futuro esposo, nos dias de namoro e de noivado, ou mesmo para apenas observar a paisagem serrana que existe de frente a Casa. E me perguntei também qual daquelas dez seria a que mais gostava a Ana Vitória (aquela querida sinhazinha que foi alvejada por tiros, em dezembro de 1830, na fazenda em que vivia com o esposo Francisco Xavier pai dos seus 10 filhos, situada no caminho da Cidade de Poção-PE, nas proximidades do atual distrito Gravatá) qual delas a menina mais usava para observar o brilho do Sol no amanhecer ou a chegada da noite ao cair da tarde, ou mesmo correr para avistar o cavalo do seu namorado Francisco Xavier Paes Barreto (pai do já citado filho também de mesmo nome o tal “Paes Barreto” que se tornou Presidente de várias Províncias).
Questionei-me sobre tanta coisa, como um curioso da História, com o desejo de entender um pouco mais sobre toda aquela nobre Família e as pessoas que compartilharam com ela das emoções da vida na remota Época Colonial. Pensei na infância das meninas, na juventude e na maturidade delas, dentro daquela grandiosa morada, que hoje já é bissecular. E foi impossível não sentir o peso de tantas Histórias de vidas que se cruzaram neste velho cenário de romances, de disputas, de casos proibidos, de pensamentos impróprios (comuns aos humanos) eu só sei que pude viajar no tempo e imaginar muito mais além do que estava na minha frente e visão daquele espaço físico formado por calçadas, degraus, janelas e paredes mudas, que outrora ouviram muitas histórias de família e de meninas que cresciam para deixarem os seus brinquedos e se formarem damas, conhecerem seus amores e se tornarem mães. Paredes que assistiram lágrimas rolarem nos rostos de alegrias, de tristezas e de solidão (como as lágrimas nos rotos africanos tristes por estarem distantes de suas terras e de suas famílias). Estes que muitas vezes sofreram com estas dores na alma, aprisionados naquela senzala como se fossem animais. Sabemos que muitas lágrimas de choros aconteceram ali pelas dores da separação de amigos e parentes escravos que foram vendidos para outras senzalas, como se eles fossem apenas bichos de raça para trabalhar, reproduzir e dar lucros.
Senti uma confusão de emoções ao observar todo aquele ambiente histórico, que com palavras nunca as conseguirei descrever. Sem exageros, seria impossível não lembrar tantos fatos alegre ou tristes que foram relatados em livros de escritores da Região. Como esquecer a dor da perda daquela filha, esposa e mãe “Ana da Vitória”? (menina de nome tão bonito escolhido dado por seus pais, mas que não viveu o bastante para ver a vitória dos seus filhos na idade adulta).
Jamais se imaginaria que tão grande dor um dia aquela família iria passar. Além da morte do Capitão-mor que ocorrera antes dessa tragédia a família somou as duas grandes dores ( a da partida dele e a da morte de dela) e isto contribuiu muito para a família se desfazer da vontade, do desejo e do prazer de permanecer vivendo naquele mesmo ambiente que se transformara em tristeza total. De forma que desgostosa e entristecida a família inteira perdeu o interesse que tinham pela fazenda. Portanto, dai por diante tudo se transformou e o lugar que começará a se esvaziar com a morte do Capitão-mor e, a de sua filha Ana Vitória (que ao que nos parece… os livros nos dão a entender que foi o próprio cunhado dela – o Fundador de Pesqueira – Manoel José de Siqueira quem encomendou a morte do marido da Ana Vitória – que era seu concunhado Francisco Xavier- o proprietário das terras de Poção e que por infelicidade do destino Vitória foi à vítima dos tiros do assassino). Por um momento, ao pensar neste trágico episódio daquela família, eu senti uma tristeza profunda, como se eu fosse um dos membros da Casa e estivesse estado lá naqueles dias de Luto. Neste mesmo instante, procurei desviar o meu pensamento e esquecer toda aquela nostalgia do passado daquela gente. E passei a observar o presente e a contemplar a beleza da vida na paisagem ao redor daquele lindo lugar romântico e tão cheio de lembranças e sentimentos. Demorei um pouco mais fotografando o Casarão e o ambiente verde. Depois parti dali com a impressão de que participei de um filme épico gravado há duzentos anos. Que coisa mais impressionante me causou aquela edificação e a sua paisagem!
Vim embora com a certeza de que voltarei, outras vezes, para rever este importante “Berço da História de Pernambuco” que me faz sonhar, me emocionar e viajar nas “Asas do Tempo”, para depois escrever estes meus devaneios e não deixar que o tempo os apague, porque são extraídos de histórias de vidas exemplares que podem nos servir como lições de valor, para refletirmos sobre o nosso presente e o nosso (talvez) possível futuro.
Francisco Mendes Galindo/pesqueirafuxico.com, 11/09/2017.