…A PAZ DO MUNDO COMEÇA EM MIM
Nessa conjuntura tão tumultuada que estamos atravessando, uma palavra tão pequenina e tão vultosa, faz-se necessária na ação de cada um de nós pelo bem que ela nos traz – paz –. Derivada do latim pax, traz-nos a ausência de violência, oferta-nos aspirações serenas entre os seres humanos. Santo Agostinho no capítulo XII do livro XIX da sua principal obra da filosofia política De Civitates Dei (413-426), apresenta-nos a paz como um bem desejado e não uma ordem imposta.
A paz do mundo começa em mim, começa em você que é meu semelhante e irmão, começa em cada célula que nos constitui, em cada construção de nossas ações, pois se nos percebemos como seres humanos e humanizados para si e para com o outro em nossa breve travessia nesse espaço terrestre, só teremos a necessidade de ofertar o bem a si e ao outro.
Há um breve e consistente exemplo sobre o bem-estar que quando possível exponho em sala de aula: o exemplo da despressurização – a não conservação (do modo artificial) da pressão, fazendo com que esta não se mantenha normal, dentro de um local fechado – do avião. A mensagem que nos é passada é mais ou menos assim: “se houver despressurização cairão máscaras; primeiro coloque-as em si e depois ajude a pessoa que está ao seu lado se ela necessitar de ajuda” –, ou seja, adotamos dessa instrução um direcionamento: se eu não estiver bem, como posso ajudar o meu semelhante?
Construir a máxima, HÁ PAZ EM MIM, se em mim existe paz, é por que a conheço, só ofertamos o que de fato conhecemos, essa discussão de ofertar o que de fato conhecemos se estenderia mais, porém, agora, fiquemos na discussão em foco, HÁ PAZ EM MIM.
Há tanta PAZ em mim que sou capaz de transbordar para acolher a todos que me rodeiam, a todos que querem receber, a todos que eu posso ensinar como construir a paz e ser preenchido pela paz.
Atravessamos uma conjuntura histórica-social-política-econômica da pseudoedificação do subjetivo da sociedade pela apologia à avidez, pelo egoísmo, pelo individualismo, pela manipulação do ser, extraindo desse a humanização e o transformando em robôs – máquinas manipuladas –. O foco é TER e não SER.
Foco invertido para a estrutura humanar, se a satisfação é preenchida pelos valores materiais, os valores essenciais serão esvaziados e os seres humanos que nos curvam a esse modelo de preenchimento, sempre estará carente por algo que a maioria não consegue identificar. Assim, no século XVII o economista Adam Smith afirmou que todos nós nascemos carentes e morreremos carentes e só o mercado nos preencherá. Com esse modelo segue-se até hoje o modo invertido de construção do Ser.
Para sairmos dessa Caverna – remeto-me aqui ao Mito da Caverna de Platão – é necessário a constituição de uma educação emancipada e humanizada para a construção de pensadores críticos capazes de discernir sobre a importância do diálogo para a construção de uma sociedade em concórdia, extinguindo qualquer intenção de desrespeito entre si.
A PAZ que há em mim é eficaz a essa estrutura manipuladora, pois ao sermos a paz, estamos emocionalmente estabilizados e conseguimos racionalizar os mecanismos propostos que o sistema no qual estamos inseridos nos impõem com o objetivo da nossa manipulação.
Em tempo pergunto a cada um também: HÁ PAZ EM VOCÊ?
Joana Macêdo.
Currículo resumido:
Joana Macêdo, professora no Instituto Federal de Pernambuco – IFPE – Campus Pesqueira. Mestra em Educação pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL. Especialista em Língua Estrangeira Moderna Espanhol pelo Centro de Estudos Superiores de Maceió – CESMAC. Graduada em Licenciatura plena em Filosofia pela Universidade Federal de Alagoas. Licenciada em Letras – com habilitações em português e espanhol pela Universidade do Tocantins – UNITINS. Pesquisadora no grupo de pesquisa em Estado e Políticas Sociais e Educação Brasileira – GEPE. Atua principalmente nas seguintes áreas: Análise do Discurso, Políticas Públicas Educacionais e Sociais, Educação, Filosofia e Letras.
PARA O PESQUEIRAFUXICO.COM,21/01/2018.