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Veja uma análise, sobre esta Campanha Eleitoral, que foi feita por um Historiador Pesqueirense!

SOB A SAGRAÇÃO DO DISCURSO DO INIMIGO COMUM, VENCEU O SIGNO DA ORDEM

Tive oportunidade de assistir aos guias eleitorais e as inserções dos candidatos presidenciais, nessas eleições de 2018 do nosso país. Confesso o que me chamou muito a atenção foi a propaganda eleitoral do candidato do PSL, o capitão Jair Bolsonaro.

Com um discurso messiânico e de clamor ao sagrado pelo capitão, como uma guerra santa, nos remete a AIB – Ação Integralista Brasileira, (movimento autoritário de extrema direita, da década de 1930), bem como a campanha de Fernando Collor de Melo, no final da década de 1980, (com uma retórica patriorica dos símbolos nacionais, versos as cores encarnadas da luta de classe). Um terreno fértil para o surgimento dos mitos, com sua mensagem salvacionista, como elemento quadrante de convencimento ao eleitor, típico dos que se apresentam como salvadores da pátria, em períodos de grandes crises.

Assim, estabelecida as estratégias de seu discurso neopopulista de combate a corrupção e a criminalidade, de um país que se encontra numa encruzilhada perigosa contra os valores da família, por um grande mal que precisava ser estirpado para a redenção da nação, era necessário potencializar essa maléfica incarnação, para atingir os objetivos propostos. Desta forma, dando sentido ao discurso, em que o PT e de sua bandeira de cor vermelha e socialista representa o grande mal para a nação, para sensibilizar e arregimentar os soldados de cor verde e amarelo, com as vestes liberais, se estabelece a trajetória para salvar o pais do grande perigo que estava correndo.

Desta forma, Bolsonaro é intronado como o super homem do bem, que será capaz de livrar o país dessa grande ameaça. O messias da para a terra prometida, que a nação precisava, pra se livrar do abismo em que se encontrava. Sob o seu comando o Brasil estaria seguro e livre de todos os maleficios que o PT representaria no poder.

Neste cenário, o guia de Jair Bolsonaro usa a emoção como ferramenta mobilizadora junto as massas, na construção do discurso do inimigo comum no âmbito interno, representado pelo PT e seus aliados no âmbito externo, algo que sirva de exemplo negativo, que precisa ser combatido e evitado por todos os meios, que cause temor na população. Neste caso, a Venezuela atende bem a esta representação do que deveria ser combatido a qualquer custo, por ser uma das faces nefastas da mesma moeda.

A narrativa construída e amplamente divulgadas pelas novas tecnologias da informação, nas redes sociais ela se prolifera de forma massiva e segmentada, a fim de atingir com maior eficiência o público alvo. Com um discurso anti-petista e anti-bolivarianista, como pano de fundo de reforço, em que o partido passa a ser colocado como o grande responsável pela corrupção, incompetência, aparelhamento e de todas as mezelas da vida brasileira. A Venezuela neste sentido, é colocada como aliado número um do PT, tornando-se um exemplo maldito daquilo que o Brasil não poderia seguir e nem se transformar.

A construção do discurso é permeado por uma mensagem bíblica e profética do candidato do PSL, sob o lema da trilogia DEUS (o sagrado), PÁTRIA (a ordem) e FAMÍLIA (valor cristã). Desta maneira, não há fronteira entre o profano da política e o sagrado da religião, que passam a servir a um mesmo propósitos, o de sensibilizar a população desiludida com a atual realidade, apontando um rumo, um caminho seguro a ser seguido, sob o signo da ordem.

Neste sentido, busca-se com esse discurso messiânico, a sacralização da política e o combate ao comunismo. Mesmo que anacrônico, fora do contexto mundial, diante do fim da velha ordem bipolar, da queda do muro de Berlim e da dissolução da URSS no século passado, esse discurso ainda tem um forte apelo junto as camadas religiosas tradicionais da população, como um elemento mobilizador do medo, para a justificativa de instalação de um governo de viés autoritário.

Com o discurso de autoridade, como aquele que dará jeito na bandidagem, prendendo, matando e arrebentando, ao mesmo tempo que promete flexibilizar o porte de arma ao cidadão, procura passar a sensação de que dessa forma a população vai estar mais segura, diante do problema da violência.

Como o mensageiro da boa nova, estabelece a imagem de alguém que irá acabar de vez com os grandes problemas do país. Para isso, passa a se travesti de anti-politico, como aquele que não faz parte do sistema, que está descolado de sua classe, do establishment, apesar de ser parlamentar há quase 30 anos.

É aquele que alardeia que em sua gestão, não permitirá politicagem, o incorreto, o mal feito, a interferência dos partidos políticos na nomeações dos cargos públicos. Que combaterá o tráfico de influência e que irá colocar os melhores quadros técnicos do país, pra ajudá-lo a governar.

Não deixa de ser um discurso cativante e mobilizador. Ao se utilizar dos símbolos nacionais mais caros para a população, como é a bandeira brasileira, procura calçar a sua imagem de patriota. É sem sombra de dúvida, um discurso que tem forte apelo junto ao senso comum da população, que perpassa os diversos interesses das camadas da sociedade brasileira.

Um discurso extremamente receptivo no imaginário popular. De fácil assimilação e identitário, muito eficaz na sua absorção de pertencimento, mas de pouco conteúdo e mais imaginário. Sem uma pauta consistente diante dos grandes desafios que estão postos, que precisam ser enfrentados.

É tão notório e factível, que em suas declarações, o candidato não pontuou claramente e nem se aprofundou do que realmente pretendia fazer de fato, pra enfrentar os graves problemas do país. Algo tão relevante e não participou dos debates, espaços para se conhecer as propostas, de analisa-las e ao mesmo tempo, conhecer a capacidade de quem as defendem.

Durante a propaganda eleitoral, se procurou mostrar um Bolsonaro que se emociona, que tem face mais humana, diferendo do candidato que defendia idéias extremistas, que vez por outra dava suas recaídas. Procuraram apagar ou silenciar esse seu lado truculento e autoritário, dando uma roupagem de alguém que se identifica como um homem comum, de um o pai de família exemplar, de um líder confiável, popular e religioso, cumpridor de seus deveres.

A imagem que foi construída do candidato jair Bolsonaro é de uma liderança politica que tem grande apreço pelo religioso, que não instiga a violência, a intolerância, o ódio, o preconceito e o racismo, muito pelo contrário, pelo contrário, é uma da vítima. Comportamento enganador e manipulador, típico da propaganda do nazifascismo e da barbárie, que hoje se associa a um conteúdo neoliberal mais radicalizado.

Outro aspecto importante que precisa ser refletido na construção do discurso anti-petista, é a representação da imagem de Jair Bolsonaro, como o homem que está a serviço do bem contra o mal representado pelo Partido dos Trabalhadores – PT, corroborada e amplificada ao longo do tempo, pela grande mídia, que o satanizou voluntoriosamente, como o símbolo do que existia de pior, além do papel parcial exercido pela Justiça, atestado em vários momentos dessa história.

Jair Bolsonaro representa uma idéia mítica de salvação para o povo, com um discurso autoritário de um predestinado, que relembra o Integralismo e a campanha do Caçador de Marajás, alçado como aquele que irá colocar a casa em ordem.

Esse discurso raso e messiânico, sem dizer o que vai fazer e como fazer, é um risco para o país e de suas instituições. A história está cheia de exemplos e do resultado desses encantamentos, como foi o caso do fascismo, em que partidos tradicionais abriram a porta pro seu crescimento, em que poucos levaram a sério o real perigo que representava.

Na Alemanha se acreditava na farça, de que Hitler no poder iria respeitar as instituições democráticas do estado de direito, de que o nazismo não iria fazer o que fez, de que não haveria instabilidade e nem subversão da ordem. Ninguém levava a sério a ameaça real que representava. Substimaram Hitler e olhe no que deu. Vai ser uma conta muito alta a ser paga por todos nós brasileiros. A história não vai perdoar a escolha pelo obscurantismo.

Era impensável assistir em pleno século XXI, o surgimento de um movimento autoritário de extrema direita na vida política brasileira e a eleição de um presidente da república, com o apoio dos neo-liberais, que faz apologia a ditadura. Pensava-se está no passado, nos livros de história essa experiência, mas lêdo engano, nos assombra na atualidade e pode representar um grande retrocesso histórico para o estado democrático de direito no país.

PARa O PESQUEIRAFUXICO.COM, 29/10/2018. Por Fábio Amorim – Historiador

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