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A Matriz da Praça: Guardiã de Histórias

Há uma praça no coração da cidade que respira história. E no centro dela, ergue-se imponente a matriz, sua torre a tocar o céu, seus sinos a ecoar pelas ruas estreitas e pelo tempo. A matriz da praça viu tanta coisa ali passar – e se pudesse falar, que crônicas não nos contaria?

Ela testemunhou o menino que corria descalço, fugindo do toque da mãe, para brincar de esconde-esconde entre as árvores e os bancos de ferro. Ali, onde os pássaros assoviam, ele cresceu e depois, já homem feito, ajoelhou-se nos degraus da igreja para pedir a mão de sua amada.

Os sinos da matriz soaram em dias de festa, em casamentos tão cheios de flores que o perfume parecia pintar o ar. Mas também choraram, solenes, em despedidas que arrancaram lágrimas das velhas carpideiras. Sob suas sombras, promessas foram feitas, amores se formaram, outros se desfizeram.

Na praça, o coreto, há muito empoeirado, já abrigou noites de serestas, com casais enlaçados dançando sob as estrelas. A matriz observava tudo: a moça que, timidamente, lançava olhares para o rapaz da sanfona; o velhinho que batia os pés no ritmo das canções de sua juventude.

Vieram os comícios. Discursos acalorados ecoaram entre as pedras da calçada, enquanto a matriz, silenciosa, assistia a multidões vibrando por mudanças. Também viu as crianças correndo atrás de balões coloridos nos dias de feira, suas risadas misturando-se ao pregão dos vendedores de doces e à música dos artistas de rua.

Mas nem tudo foi celebração. A matriz viu as guerras que chegaram, ainda que distantes, nos telegramas lidos com mãos trêmulas. Observou a praça esvaziar-se em tempos de doença, quando o medo rondava como uma sombra entre as casas.

Hoje, a praça continua viva, embora diferente. Os bancos modernos substituíram os antigos, as crianças, agora com celulares, não correm como antes. Mas a matriz permanece, firme, como quem guarda não só o peso do tempo, mas também as histórias de quem viveu e vive ao seu redor.

Talvez seja isso que torna a praça especial. Não é apenas um lugar – é um livro vivo, e a matriz, com sua torre altiva, é a narradora silenciosa, que guarda em cada pedra o eco das vidas que por ali passaram.

POETISA: MARIA DAS MONTANHAS, 09/12/2024.

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