A aprovação da emenda que constitucionaliza as doações privadas aos partidos políticos pode obrigar o PT a voltar atrás na decisão de não receber mais recursos de empresas.
Como a emenda ainda precisa ser aprovada em segundo turno na Câmara e passar por aprovação do Senado, dirigentes petistas ouvidos pelo “Broadcast Político” evitaram ser taxativos, mas admitiram o impacto.
O secretário Nacional de Mobilização do PT, Florisvaldo de Souza, diz que o partido tentará barrar a medida “até o final”. “Vamos ter que aguardar, deixar tramitar, tentar barrar até o final. Depois, se tudo for aprovado, o partido vai ter de se reunir para decidir o melhor caminho”, afirma.
Outro dirigente petista admitiu que o partido teria dificuldades em “nadar sozinho contra a corrente” e pode ser “obrigado” a rever a proibição de doações.
A emenda aprovada pela Câmara que libera a doação aos partidos e proíbe aos candidatos é oposta à decisão tomada pelo PT. Em abril passado, o Diretório Nacional da sigla decidiu proibir voluntariamente as doações empresariais ao partido.
Pela regra, que ainda precisa ser referendada no 5º congresso do partido marcado para junho, os candidatos ainda poderiam receber recursos privados. A ideia é blindar a legenda em eventuais irregularidades em doações aos candidatos.
Coordenador da Construindo um Novo Brasil, maior corrente do PT, o sindicalista Francisco Rocha da Silva chamou a medida aprovada pela Câmara de “esdrúxula”.
“O que acabou de ser aprovado joga a responsabilidade total e absoluta em cima das legendas e os candidatos ficam livres para fazerem o que quiserem na campanha”, critica Rochinha, ressaltando que não fala apenas da situação do PT.
Rochinha reclama que os partidos serão os encarregados da prestação de contas dos candidatos, mas terão dificuldades no controle da arrecadação.
“Como você vai, através do partido, controlar o recebimento de recursos por fora dos candidatos?”, questiona, se referindo à possibilidade de prática de caixa dois.
O coordenador da CNB acusou ainda o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de “golpe” ao recolocar o financiamento empresarial em discussão em uma “manobra”.