Home / Destaque / Canetadas (Por: Jurandir Carmelo)

Canetadas (Por: Jurandir Carmelo)

302115_110509252396901_68785487_n

Pesqueira/PE, 17/04/2014 > Hoje recebi a visita do amigo-irmão de infância, Walter Luiz de Araújo Neves, ou simplesmente como é conhecido, ainda hoje, Walter de Luiz Neves. Nossa amizade, juntamente com os meus irmãos Paulo e Lídio foi construída a partir de nossos saudosos pais, Paulo de Oliveira e Luiz Neves…

Foi um recordar da nossa infância e adolescência. Em casa ouvimos o CD do amigo Zé Luiz, que será pré-lançado no próximo sábado no “Bar e Restaurante Mistura Pernambucana”, do nosso amigo Iron Bispo e da minha prima Paula, no Shopping Rosa, antiga Fábrica Rosa, pelo meio-dia.

Folheamos algumas páginas de livros de autores pesqueirenses, e Walter se emocionou quando recitei para Ele o poema intitulado “LUIZ NEVES” (Luiz foi Rei, foi rei…), de autoria do poeta mais poeta de Pesqueira, o amigo, conterrâneo e contemporâneo Laurene Almeida, autor de diversos livros, um de conto: “A MORTE DE ANTONIO PACHCO E O GANGARRO MIRABEAU (Editora Ororubá – 1998); um de poesia: “PESQUEIRA VERSOS UNIVERSOS”, Editora Bagaço – 2002); e o mais recente: CULINÁRIA DA FOME (A necessidade tem cara de herege ( Editora Lucigraf – Recife/2012).

Leiam a baixo o poema, extraído do seu Livro “PESQUEIRA VERSOS UNIVERSOS” > (Laurene Almeida, páginas 146/147. Edições Bagaço / Recife 2002).

LUIZ NEVES

 

Luiz foi rei, foi rei…

Quem sabe, por timidez,

Disfarçava de plebeu,

Nas foi rei, foi rei…

 

Luiz, agora

Que silencioso e enigmático,

Entre pétalas e nuvens,

Te encantaste,

Eu te proclamo

Primogênito do povo.

 

Dom Luiz de Oliveira Neves,

Imperador da fantasia e da vida,

Do sonho e da maravilha.

Rei-de-ouros nas lides políticas,

Valete-de-copas, coração vermelho,

Que do meio do povo se despetala

Em festa e fúria, fé e indignação.

 

Dom Luiz,

Elevaste à tua côrte de sonhos,

Os pretos e os pobres,

Os desdentados e os famintos,

Com eles dividiste o Trono e a Realeza,

As lágrimas e o suor, o barro e o sopro.

E assim desvendaste

Humanos e divinos.

 

Tu os reconheceste, Dom Luiz,

Poeira estrelada

E os nomeaste membros irrecusáveis

Da tua humana dinastia.

 

Luiz foi rei, foi rei…

 

Essas notas terminaram virando as presentes canetadas, cuja publicação é uma homenagem à nossa querida Amiga-RAINHA, Dona Terezinha Araújo de Oliveira Neves, simplesmente dona TECA, viúva do saudoso REI, Dom Luiz Neves.

A minha homenagem, igualmente, aos meus amigos-irmãos Walter, Didi, Neném, Tody, Maninha e Lelêu (Zé Wênio, de tabela), bem assim aos mais novos filhos e filhas, netos e netas, bisnetos e bisnetas desse pesqueirense arretado, que foi Luiz Neves.

LUIZ NEVES era filho de José Nepomuceno das Neves e dona Blandina, a quem carinhosamente chama de “BLANDA”, sendo seus irmãos e irmãs, José, Antonio (falecido, ex-BNB); Francisco (Pesqueira Notícias), Júlio, Lia, Nevinha, Carminha (saudosa amiga, grande pé de valsa), Conceição (Guilva, casada com Gabinho) e Lourdes.

Luiz Neves teve uma extensa e movimentada vida política na nossa terra Pesqueira, tendo assumido diversos cargos públicos, eletivos ou não. Foi Secretário Municipal na gestão do prefeito Ésio Araújo, vereador, vice-prefeito, prefeito por dois mandatos e deputado estadual.

Luiz foi o responsável maior pela elaboração do CÓDIGO DE POSTURAS MUNICIPAIS – (Lei 141, de 27 de Março de 1951), ainda vigente, lamentavelmente, não utilizada.

Como prefeito, uma de suas mais importantes obras foi o canal de São Sebastião, que cortou a cidade pela Baixa do mesmo nome, acabando de forma definitiva com o foco de várias moléstias, entre elas a Febre Tifoide, doença infectocontagiosa causada pela ingestão da bactéria Salmonella typfi em alimentos ou água contaminada (Fonte: Febre tifoide – Wikipédia, a enciclopédia livre).

 

Mas não se pode esquecer outra obra importante que foi a Maternidade da Vila de Cimbres, que em razão de sua localização e difícil acesso, principalmente, em épocas chuvosas, registrava um preocupante índice de mortes com parturientes sem a devida assistência médico-hospitalar.

Porém, a obra de maior valia para Pesqueira, construída por Luiz Neves, sem dúvida alguma, foi Colégio Comercial Municipal de Pesqueira, portanto com cursos ginasial e Contabilidade (segundo grau), abrindo assim as portas do futuro para tantos estudantes pobres de Pesqueira, que ao terminarem o curso primário paravam os estudos, porque os pais não tinham condições de pagar os estudos, uma vez que Pesqueira só era servida por escolas particulares, a exemplo do Cristo Rei, Santa Dorotéia e o Seminário São José.

Luiz recebeu uma resistência muito grande dos setores conservadores da Cidade e da Diocese de Pesqueira, porque foi além de criar um Colégio, o fez misto, dando oportunidade aos moços e moças da nossa Terra, com o agravante de ser noturno. É que se esperava o pior numa relação entre rapaz e moças, estudando numa mesma escola, principalmente à noite. Essa a razão da resistência. Luiz Neves para enfrentar esse problema foi buscar o professor Paulo Melo para dirigir o CCMP, que convidou uma mulher para o cargo de vice-diretora, o que amenizou a questão. Talvez o principal motivo não tenha sido esse encontro de rapazes a moças estudando em um mesmo colégio, até porque há muitos anos que existia esse encontro na área de trabalho, nas escolas entre professores e professoras, nas fábricas e no comércio, entre operários e operárias.

Ao deixar o exitoso mandato de prefeito, para candidatar-se ao cargo de deputado estadual (tendo sido eleito, com expressiva votação), havia dado início ao Matadouro Modelo de Pesqueira, competindo ao seu vice-prefeito, o saudoso amigo Dr. Petronilo de Freitas, dar continuidade a obra, o que aconteceu, pois em apenas nove meses, tempo de uma gestação, nascia o novo matadouro público, esse mesmo que está aí servindo à Pesqueira, mas, hoje, em condições precárias, por falta de suporte físico, técnico e de higiene.

Luiz Neves era, também, jornalista. Na lide do jornalismo interiorano, escreveu para os jornais “A VOZ DE PESQUEIRA” (do jornalista Eugênio Chacon), “FOLHA DE PESQUEIRA” (do meu saudoso pai, jornalista Paulo de Oliveira), tendo mais tarde, adquirido do filho de Zeferino Galvão (Alípio Galvão), juntamente com Rinaldo Jatobá e outros, o direito de editar “A GAZETA DE PESQUEIRA”, que fez por alguns anos. Foi correspondente de jornais da capital.

Luiz participou como membro da Associação de Imprensa de Pernambuco (AIP) e da Associação Pesqueirense de Imprensa (API), do 8º Congresso de Jornalistas do Interior, realizado em 1953, em Pesqueira, tendo como organizador e presidente o velho Paulo de Oliveira, já aquela época considerado o decano da imprensa matuta.

Mais tarde, em 1957, Luiz Neves a pedido do meu saudoso pai, seguiu para o Rio de Janeiro, a fim de representá-lo no 1º CONGRESSO NACIONAL DE JORNALISTAS, promovido pela Associação Brasileira de Imprensa – ABI. Lá fez o seu furo de reportagem para o Diário da Noite, levando o jornalista Mário Melo até p Estádio do Maracanã, que odiava futebol, em bonita reportagem que nos deixou contada em seu livro “CAÇUA DE LEMBRANÇAS”, às fls. 81/84.

Luiz deixou dois livros publicados “PESQUEIRA – EVOCAÇÃO ANO 100 – (Tipos Populares)” – Edição do autor – CEPE 1980 e “CAÇUA DE LEMBRANÇAS”, edição do Autor – CEP – Recife – 1981, tendo participado, também, do livro PESQUEIRA SECULAR (Crônicas da velha Cidade), com a crônica “COPIRRAITE (Aos 100 anos da minha jovem Pesqueira de Sant’Águeda” (páginas 231 a 243), edição comemorativa ao 1º Centenário da Cidade de Pesqueira, publicado em 1980, uma coletânea de matérias escritas por pesqueirenses, coordenado pelos pesqueirenses Pedro Santa Cruz, Aloísio Falcão, Potiguar Matos, Nivaldo Burgos e Silvio Lins.

Luiz, ainda deixou em preparo (não publicado) as seguintes obras: “FRUTO VERMELHO” (Romance); bulício de um instante (poesias – livro concluído); “SAGA DO CABO ZEFERINO” (novela); e “QUITERIANAS” (crônicas).

Era assim o nosso Luiz Neves, uma vida cheia de valores, de luta, de dedicação à sua terra Pesqueira. Assiste razão ao nosso poeta Laurene Almeida: (LUIZ FOI REI, FOI REI…).

Deixe seu Comentário

Your email address will not be published. Required fields are marked *

*

Scroll To Top