Home / Destaque / De Caruaru para o mundo: conheça a história de sete ‘Patrimônios Vivos’ da Capital do Forró

De Caruaru para o mundo: conheça a história de sete ‘Patrimônios Vivos’ da Capital do Forró

Princesinha do Agreste possui 19 Patrimônios Vivos, 7 deles, já levaram a cultura da cidade nas suas mais diversas expressões para outros países do mundo.

Por Fábio Gomes, g1 Caruaru

18/05/2024 08h39  Atualizado há um dia

Caruaru comemora 167 anos.  — Foto: Janaína Pepeu

Caruaru comemora 167 anos. — Foto: Janaína Pepeu

Neste sábado (18), o município de Caruaru, Agreste de Pernambuco completa 167 anos. A Capital do Forró, como é conhecida em todo país, possui 19 patrimônios vivos. Desse total, 7 deles já levaram a cultura local nas suas mais diversas expressões para outros países.

O registro do patrimônio vivo é uma política pública, criada por lei, para homenagear os artistas e grupos culturais que possuam conhecimentos ou técnicas necessárias para a produção da cultura popular, e para a preservação da identidade cultural de um local.

A cidade possui representantes na música, no artesanato, no teatro, entre outras expressões culturais, que daqui, viajaram mundo afora, levando a cultura de um povo arretado, que tem orgulho da terra onde nasceu. O g1 Caruaru e região conversou com alguns desses patrimônios vivos da cidade. Confira a reportagem:

Família Vitalino

Família Vitalino na Casa Museu, Alto do Moura — Foto: Foto: Arquivo Pessoal

Família Vitalino na Casa Museu, Alto do Moura — Foto: Foto: Arquivo Pessoal

O bairro do Alto do Moura, em Caruaru, tem o título de Maior Centro de Arte Figurativa das Américas e uma parcela significativa deste título vem por parte do Mestre Vitalino Pereira dos Santos (1909-1963), um artista popular brasileiro, considerado um dos maiores representantes da história da arte do barro no Brasil.

A Família Vitalino, que está atualmente na quarta geração, é responsável por continuar o legado do grande Mestre Vitalino. Na casa onde ele morou aproximadamente 40 anos, hoje, funciona um museu que leva seu nome. Ele ficou famoso por fazer bonecos de argila com personagens nordestinos.

Emanuel Vitalino Neto, neto do mestre, disse com orgulho ao g1 que as peças de Vitalino estão presentes também no Museu de Arte Popular de Viena, na Áustria e no Museu do Louvre, em Paris.

“Toda nossa família hoje vive da arte do barro. Recebemos vários turistas do Brasil e do mundo. Temos um livro com assinaturas aqui e temos assinaturas de pessoas dos Estados Unidos, Canadá. Meu pai chegou a contar para mim que o ex-senador americano, Ted Kennedy, foi presenteado com um boi de Vitalino. Meu avô fez vários tipos de peças e o boi é símbolo da arte figurativa. […] Isso é motivo de ter orgulho dessa arte que ele criou”, conta Emanuel.

Leia também:

Mestre Luiz Antônio

Mestre Luiz Antônio — Foto: Foto: Arquivo Pessoal

Mestre Luiz Antônio — Foto: Foto: Arquivo Pessoal

Mestre Luiz Antônio foi eleito o primeiro patrimônio vivo de Caruaru por voto popular em 2019. O artesão já modelava barro desde os 10 anos de idade. No início da carreira, ele representava em suas artes o cotidiano do nordestino e com o passar do tempo, passou a ampliar o cenário de produções trazendo à tona esculturas de profissões.

Ao g1, o mestre disse que um dos diferenciais dele é seguir a arte do Mestre Vitalino sem perder sua originalidade. Em 1986, Luiz Antônio participou de um evento no Japão, durante o Festival de Verão, na cidade de Nagasaki.

“Fiz 300 peças durante o evento que reunia comitivas de 36 países. Sair um artesão daqui de Caruaru para representar a nossa cidade, a nossa cultura, o estado de Pernambuco e o nosso Brasil. Isso foi muito importante para mim e ficou guardado na minha memória esse encontro no Japão” relembra.

Mestre Antônio também ficou famoso pela habilidade de representar máquinas e equipamentos, como a Maria Fumaça (trem a vapor), automóveis e motocicletas. Esse talento deu a ele o primeiro lugar no concurso realizado pela Prefeitura de Caruaru, que marcou os 114 anos da cidade.

Banda de Pífanos Zé do Estado e João do Pife

Banda Zé do Estado e João do Pife em Paris — Foto: Foto: Arquivo Pessoal

Banda Zé do Estado e João do Pife em Paris — Foto: Foto: Arquivo Pessoal

A banda foi fundada por José Feliciano Rodrigues, o conhecido Zé do Estado, em São Bento do Una, Agreste de Pernambuco. Nos anos 50, aproximadamente 15 anos depois, a banda veio para Caruaru. Sua formação inicial era composta por Eduardo (Zabumba), Dete (caixa de guerra), Zé Jota (Pife) e Zé do Estado (concertina). Devido às condições precárias da época, não existem registros dessa formação inicial.

Após o casamento de Zé do Estado com Maria Francisca Rodrigues, nasceram vinte filhos, dos quais 11 sobreviveram. Na década de 80, após a morte de Feliciano Rodrigues, os filhos deram continuidade à banda e foram convidados para ir à Europa pela primeira vez, acompanhando João do Pife.

Na década de 90, os integrantes foram convidados para filmar o filme “O Cangaceiro”. Filme que relata a história de Lampião. Além disso, também viajaram para Europa, onde gravaram um novo disco. A banda também fez apresentações na América do Norte ao lado de Chico Science.

Banda Zé do Estado e Chico Science — Foto: Foto: Arquivo Pessoal

Banda Zé do Estado e Chico Science — Foto: Foto: Arquivo Pessoal

A banda viajou para Itália, Suíça, França, Bélgica, Portugal, Inglaterra, Polônia, Escandinávia, Espanha, Holanda. Na América do Norte, visitaram os Estados Unidos e Canadá. Em 2017, a banda fez uma apresentação no Rock In Rio tocando ao lado de Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Alceu Valença no show “O grande Encontro” para milhares de pessoas do mundo todo.

“É muito importante para Zé do Estado, para Caruaru, para os nossos mestres daqui. Eu me admiro muito com a cultura de Caruaru, é uma cultura muito forte. Viajamos quase metade do mundo representando Caruaru. […] Eu te amo, Caruaru!”, declarou José Feliciano Rodrigues Filho, integrante da Banda e filho de Zé do Estado.

Banda de Pífanos Zé do Estado — Foto: Foto: Arquivo Pessoal

Banda de Pífanos Zé do Estado — Foto: Foto: Arquivo Pessoal

Natural de Riacho das Almas, João do Pife iniciou a carreira como músico aos seis anos. Além de ser cantor, uma peculiaridade é que João também fabrica os instrumentos percussivos e dos pífanos, além de compor e dar aulas. Entre os gêneros, o mestre passa pelo baião, xote, cirada e outros músicas da cultura popular do Nordeste. Ele já visitou a França, Estados Unidos e Inglaterra.

https://713293097c7a84610aed338c04b72cbd.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html
João do Pife — Foto: Lafaeta Vaz / g1

João do Pife — Foto: Lafaeta Vaz / g1

Mamu Sebá

Mamu Sebá — Foto: @mamuseba

Mamu Sebá — Foto: @mamuseba

https://713293097c7a84610aed338c04b72cbd.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html

Sebastião Alves Cordeiro Filho, de 67 anos, é conhecido popularmente por Mamu Sebá. O artista Caruaruense ganhou destaque por ter se apresentado em vários espetáculos teatrais em Pernambuco e também pelos mamulengos. O Patrimônio Vivo de Caruaru ganhou reconhecimento mundial e foi pauta de vários jornais ao interpretar o personagem Lazo na série da Netflix “Cidade Invisível”.

Sebastião é natural de Sertânia, Sertão de Pernambuco. Aos 15 anos, ele veio para Caruaru e foi quando a paixão pelo cinema nasceu. Em 2016, ele recebeu o título de Cidadão Caruaruense.

Ao g1, Sebá disse que o sonho dele sempre foi ser artista de cinema. Em Pernambuco, Sebá já participou do espetáculo da Paixão de Cristo e há 43 anos é ator no espetáculo Auto das Sete Luas de Barro.

Mestre Sebá interpretou o personagem Lazo, na série Cidade Invisível (Netflix) — Foto: Reprodução: Netflix

Mestre Sebá interpretou o personagem Lazo, na série Cidade Invisível (Netflix) — Foto: Reprodução: Netflix

“Para mim foi uma honra participar da segunda temporada da série. Isso me deixou muito feliz porque quando recebi uma ligação de São Paulo foi através da própria empresa […] Não sei como eles chegaram até mim. Foram muito mais de 16 mil atores. Isso me orgulha, isso me honra” disse.

Onildo Almeida

Onildo Almeida — Foto: Foto: Arquivo Pessoal

Onildo Almeida — Foto: Foto: Arquivo Pessoal

“De tudo que há no mundo tem na Feira de Caruaru”. Você com certeza já deu ouvido falar desta música, que ganhou o mudo na voz do grande Rei do Baião Luiz Gonzaga. A composição é do artista caruaruense Onildo Almeida, que é inspiração para os novos artistas de Capital do Agreste.

Ao g1, Onildo disse que a inspiração para criar a música nasceu do fato dele ir a Feira de Caruaru todo sábado com a mãe. Nessas idas a feira, ele viu objetos, alimentos, incomuns as “tradicionais”feiras de outras cidades, como tesouras, bordados, agulhas, botões; “até automóvel vendia na feira na época que eu fiz a música!”, recorda o compositor.

A música foi responsável por tornar a feira da Princesinha do Agreste conhecida mundialmente, e ter versões gravadas em vários países, incluindo Estados Unidos, Japão, Suíça, Itália, Espanha, Portugal, entre outros.

“A alegria de um compositor é ver sua música cantada em outros países. […] A feira de Caruaru, para minha alegria, “internacionalizou” porque não havia ainda uma música no mundo falando o que uma feira tem. Eu, hoje, sou responsável pelo grande sucesso da cidade de Caruaru ser conhecida lá fora através da minha música. Em todo canto tem feira, mas a Feira de Caruaru é conhecida no mundo inteiro” diz Onildo.

Walmir Silva

Walmir Silva — Foto: Foto: Arquivo pessoal

Walmir Silva — Foto: Foto: Arquivo pessoal

https://713293097c7a84610aed338c04b72cbd.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html

José Antônio da Silva Filho, de 74 anos, conhecido por “Walmir Silva” iniciou sua trajetória musical aos 18 anos de idade, quando aprendeu tocar viola com o pai. Os primeiros discos foram gravados na década de 70, com produção musical por conta de Pajeú, Raul Seixas e o conjunto e regência de Jackson do Pandeiro.

Ao g1, Walmir disse que antes de ser conhecido passou por dificuldades, chegando a dormir na rua. Mas, logo que emplacou, visitou vários países. Atualmente, o cantor tem 2 discos de ouro, 3 de platina e 1 diamante.

Em 2016, Walmir foi homenageado no São de Caruaru. Na época, em entrevista à TV Asa Branca, ele disse que já passou por 26 países. Em novembro, a agenda do cantor já está ocupada: viajar ao Japão para um festival musical.

“Quando comecei a gravar, eu viajei com Jackson do Pandeiro para Espanha. […] Estive na França, estive na Itália, estive na Alemanha, em Portugal, no Peru, na Venezuela, Bolívia. Como Patrimônio Vivo eu me sinto agradecido, primeiramente a Deus, segundo por tudo aquilo que fiz. Hoje em dia eu sou um Patrimônio Vivo fruto daquilo que batalhei na vida.”

Deixe seu Comentário

Your email address will not be published. Required fields are marked *

*

Scroll To Top