14/11/2014 06h00 – Atualizado em 14/11/2014 06h00
Ilana Casoy coleta material para documentário que quer produzir sobre caso. Julgamento de trio começou na quinta, em Olinda, com relatos macabros.
júri do trio de canibais (Foto: Luna Markman/G1)
O julgamento do trio acusado de canibalismo não chamou atenção apenas de pessoas comuns que lotaram o auditório do Fórum de Olinda, nesta quinta (13). A pesquisadora e escritora na área de violência e criminalidade e uma das maiores especialistas em serial killers do Brasil, Ilana Casoy, também marcou presença na sessão, que durou mais de dez horas, com relatos macabros sobre a morte de uma jovem em Olinda, em 2008, e continuará nesta sexta (14). Ela pretende fazer um documentário sobre a história que chocou o país em 2012, com a descoberta de outros dois homicídios em Garanhuns, no Agreste do estado.
Casoy acompanha o caso desde o início, tendo tido inclusive a chance de entrevistar os réus – Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, Isabel Cristina Torreão Pires e Bruna Cristina Oliveira da Silva. “Todos os crimes com mais de duas vítimas que envolvem um ritual me chamam atenção. Neste caso, o que se destaca é que a gente tem três assassinos e três versões diferentes. Aqui [no julgamento], eles já têm outras versões, que não foram as que eu ouvi antes, então são seis ao todo. [As versões] não são controversas, às vezes são até complementares, mas é difícil saber exatamente o que aconteceu, o que é verdade e o que não é”, disse.
- ‘Jogos Mortais perdia’, diz ré durante júri popular de trio de canibais em PE
- Comunidade grita revoltada na chegada de trio de canibais ao júri
- Trio acusado de canibalismo vai a júri popular em Pernambuco
- Trio acusado de canibalismo não tem problemas mentais, diz laudo médico
- Juíza de Olinda marca audiência de instrução e julgamento de trio canibal
- Em PE, Justiça nega habeas corpus para integrante de trio canibal
- Juíza de Olinda-PE acata denúncia contra trio canibal
- Trio de canibais é indiciado por terceira morte em PE
- Em PE, suspeitos de mortes vendiam salgados de carne humana, diz polícia
- Suspeitos de canibalismo e mortes faziam parte de seita, diz polícia de PE
A especialista já colaborou com a Polícia Civil e Técnico-Científica, Ministério Público e advogados de Defesa de São Paulo e de outros estados para ajudar na elaboração da análise criminal de casos em andamento. Têm quatro livros publicados: “Serial Killer – Louco ou Cruel? “ e “Serial Killers – Made in Brazil”, “O Quinto Mandamento” e “A Prova é a Testemunha”.
No primeiro livro, ela disseca o universo do assassino em série e apresenta em detalhes 16 casos que marcaram o século 20, entre eles Albert Fish, Ed Gein, Ted Bundy, Andrei Chikatilo, Jeffrey Dahmer, Aileen Wuornos e o Zodíaco. No segundo, dedicou-se a uma pesquisa rigorosa para investigar os serial killers brasileiros, entre eles o vampiro de Niterói, Chico Picadinho e Pedrinho Matador.
No terceiro, Casoy revela, por meio de informações exclusivas, as pistas que a jovem Suzane Louise von Richthofen e os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos deixaram na cena do crime e destaca o trabalho pericial e policial empregado para elucidar o assassinato dos pais de Suzane. No último, mostra como a perícia técnica científica conseguiu provar a participação do casal Anna Carolina Trotta Jatobá e Alexandre Alves Nardoni no assassinato da menina Isabella.
O nome de Casoy ainda é ligado ao do psicopata Dexter Morgan, anti-herói e protagonista de uma série televisiva que leva o nome dele e que se tornou uma das mais cultuadas dos últimos anos. É que ela se considera a embaixadora da série no Brasil, por ter colaborado com o roteiro do produto.
Com essa toda essa bagagem, a reportagem do G1 perguntou a Ilana se ela acredita que os réus do caso de Olinda estão sendo sinceros nos depoimentos. “Algumas vezes acho que eles estão sim, tem algumas coisas que são coerentes com o histórico deles. Agora, tem coisas sobre o momento da ação, especificamente, que está mais difícil de a gente saber o que exatamente aconteceu ali. De fato, a gente tem três pessoas que confessam o crime, agora o quê, quando, como e quem fez o quê, a gente não sabe”, apontou.
Ao fim, Casoy explicou que participa do julgamento para coletar material para um documentário que está pensando em produzir sobre os canibais confessos e afirma que sempre dá para tirar uma lição dessas histórias. “É uma oportunidade única estar aqui, com todo mundo colaborando, e sempre dá para aprender algo, não só para a carreira como para a vida da gente. Todos os casos assim ficam na história sempre. É uma pena porque são histórias de sangue, mas a gente aprende com elas, até para a gente melhorar o nosso próprio sistema de Justiça”, comentou