Vejam como se preocupava o Prefeito ÉSIO ARAÚJO, em relação a nossa cidade. Nessa entrevista à FOLHA DE PESQUEIRA, concedida ao jornalista PAULO DE OLIVEIRA, meu saudoso Pai, também Diretor e Editor do jornal aqui referido, há 66 anos, fala dos enfrentamentos administrativos que teve para dotar Pesqueira de infraestrutura básica, rumo aos dias de hoje. É uma verdadeira lição aos mais recentes prefeitos da atualidade, de Pesqueira, Poção, Alagoinha e Sanharó (os dois últimos Distritos já emancipados àquele momento, passando à condição de Municípios, por força de lei estadual), especialmente, ao prefeito Evandro Chacon, oportunizando assim, ao melhor ver como se conduzia à frente da municipalidade, o prefeito Ésio Araújo, principalmente, em relação as finanças, a correta aplicação das verbas públicas e a transparência das informações aos munícipes. Por meio dessa entrevista, tão distante em relação ao tempo (23/01/1949) e tão presente em relação a determinados fatos, nota-se que já existiam gestores que se locupletavam do dinheiro público, como pode ser observado no destaque a seguir: DESTAQUE DA MATÉRIA. (…) Como administrador, só prejuízo venho tendo, ao contrário de muitos que se aboletam no poder para enriquecerem facilmente. Infelizmente, este é um dos quadros desoladores que ultimamente o Brasil tem apresentado ante os olhos de seus filhos (…). Leiam a entrevista: ———— Folha de Pesqueira Ano II – Nº XII – PESQUEIRA, 23 DE JANEIRO DE 1949 – DIRETOR: Paulo de Oliveira – PERNAMBUCO A AÇÃO ADMINISTRATVA DO PREFEITO ÉSIO ARAÚJO (PÁGINAS PRIMEIRA E TERCEIRA) Precisamente em janeiro do ano findo este jornal dava ao público importante reportagem intitulada “RUMOS CERTO” sobre a atividade administrativa do dr. Ésio Araújo, em apenas dois meses que havia assumido o governo constitucional do município. E falou-nos então o prefeito pesqueirense sobre o volume de vales acumulados nos cofres da municipalidade, dando aos mesmo regularidade, através de créditos voltados pela Câmara Municipal. FOLHA DE PESQUEIRA, reiniciando hoje sua publicação, precisamente no mês que coincide com aquela reportagem de que nos ocupamos oferece ao público este amplo noticiário obtido através de uma entrevista que nos concede o Sr. Ésio Araújo. Encontramos o prefeito em seu gabinete de trabalho e manifestamos-lhe o desejo de ouvi-lo numa palestra que seria bem uma demonstração das atividades do seu governo, durante o ano findo. Atendendo-nos com a gentileza que lhe é peculiar, o ilustre pesqueirense à primeira indagação que fizemos, sobre qual o aspecto financeiro da Prefeitura em 1948, disse-nos, que durante o ano findo a arrecadação do município ultrapassou a todas as expectativas. O Orçamento teve a sua receita prevista em Cr$ 1.220.000,00 (…) enquanto que a arrecadação atingiu Cr$ 1.904.532,60 (…), que resultou em superávit de Cr$ 684.532,60. Juntando-se a quantia de Cr$ 1.904.532.60 (…) arrecadada no exercício de 1948, com o saldo que veio de 1947 para o exercício em tela teremos o total de Cr$ 2.035.159,80 (…). Ora, confrontando-se as receitas arrecadada entre 1947 e 1948, encontraremos uma diferença de Cr$ 598.388,00. E é oportuno frisar que se a Prefeitura tivesse recebido a quota completa do governo federal, a que tem direito, conforme lei nº 305, de 18 de julho do ano findo, como igualmente a quota de 50% do Estado, referente ao Imposto Territorial Rural, a receita do município, em 1948, ascenderia, indubitavelmente a dois milhões de cruzeiros. Concernente à despesa – continua o prefeito – esta ficou mais ou menos equilibrada com a receita, incluindo-se o saldo que veio de 1947, pois durante o exercício que terminou a municipalidade dispendeu, nos diversos serviços públicos com a quantia de Cr$ 1.936.343,00. Vê-se, pois, que a despesa foi invertida na justa proporção da capacidade financeira do município, atendendo assim ao interesse comum da coletividade. A Prefeitura está em dia com o comércio e o funcionalismo – concluiu o Sr. Ésio Araújo à nossa primeira indagação, sobre o estado financeiro do município no ano findo. Abordamo-lo então sobre quais os melhoramentos executados na cidade e qual o montante dos dinheiros aplicados. E continuou a falar-nos acrescentado ter o melhor prazer em declarar como fora aplicado o dinheiro público, acentuando que a maior obra realizada no ano findo fora a ampliação do prédio da usina elétrica e concomitantemente, o conserto do motor “National” de 90 HP que, há quase quatro anos, estava sem funcionar, hoje, porém, em pleno funcionamento e fornecendo energia a três secções. É de justiça acentuar que muito se deve ao ex-prefeito Sr. Laércio Valença, pelo inestimável serviço prestado quando da soldagem e do assentamento do eixo da máquina geradora, trabalho este que requereu de sua pessoa um esforço extraordinário, comprovante da sua competência por tão delicado empreendimento. Vale acrescentar os serviços de grande monta, como por exemplo: a construção da caldeira; a confecção de um quadro elétrico; a distribuição de nova rede no interior do prédio; a construção ainda de um prédio onde irá funcionar uma bomba destinada ao abastecimento d’água à usina – serviço precaríssimo, de ver que prejudicava seriamente o funcionamento das máquinas, dada a falta d’água para a necessária refrigeração. ADQUIRMOS QUATRO GRANDES TRANSFORMADORES E o prefeito numa conversa fluente continua dizendo que foram adquiridos quatro grandes transformadores e instalados cinquenta postes de cimento armado em diversas artérias da cidade, alguns focos de luz fluorescente, como se verifica na Rua Duque de Caxias e Praça Dom José Lopes. Nesses melhoramentos a municipalidade dispendeu com a quantia de Cr$ 277.411,60. O problema de luz está, assim, em dias de ser definitivamente resolvido, pois, pouco falta para os serviços serem concluídos. NO SETOR URBANÍSTICO É ainda o Sr. Ésio Araújo que esta com a palavra, dizendo que não se descurou das cousas urbanísticas Da cidade, acrescentando que providenciou a vinda à Pesqueira da Secretaria de Viação e Obras Públicas, para fazer um novo levantamento topográfico da cidade. Antes disso, porém, iniciou as obras de assentamento de meio-fio na Rua Barão de Lucena, numa extensão de109 metros, tendo iniciado a pavimentação da Avenida Comendador José Didier, cuja área calçada já mede quinhentos e vinte e nove metros quadrados. Nessa artéria foram construídos mais de duzentos metros de galerias em tubo de dezesseis polegadas para o escoamento das águas pluviais. Em início de janeiro do ano recém-findo, a prefeitura indenizou um prédio sito a Rua Maestro Tomaz de Aquino, o que veio atenuar bastante o aspecto desagradável ali então existente, visto que dito prédio impedia o trânsito de pedestres e veículos. É de notar que foram executados serviços de terraplanagem em diversas ruas da cidade, além dos trabalhos de conservação do campo de aviação e mais os de melhoramentos de jardins, conservação de uma variante com obra de arte, em demanda à rodovia central, bem assim a construção de uma bueira. MELHORAMENTOS NOS DISTRITOS Interrompeu o prefeito, a conversação para assinar um volume de documentos que o secretário da prefeitura colocara na mesa. E logo depois voltou à palestra, quando falamos-lhe se havia sua ação de trabalho se estendido aos distritos. – Perfeitamente – disse-nos com certo entusiasmo. Auxiliada pelo Departamento de Estradas e Rodagem a prefeitura iniciou a construção de um pontilhão no lugar denominado “Izabel Dias”, trecho entre Pesqueira e as vilas de Poção e Jenipapo, dispendendo Cr$ 14.043,00. Referente às rodovias o governo municipal procurou melhorar o mais possível as comunicações interdistritais, sendo conservados 19.118 metros da rodagem Pesqueira-Alagoinha-Venturosa. O mesmo sucedendo nas rodovias Pesqueira-Poção, Povoado de Mutuca, com 31.591 metros; Sanharó-Jenipapo, com 8.704 metro; Socorro-Alagoinha, com 5.304; Mutuca-Amarela, em ligação com o município de Brejo da Madre de Deus, 6.087 metros; Cimbres-Curral de Bois, 672 metros; Pesqueira-Socorro, com 2.609; Salobro-São Bento do Una, com 985. Pesqueira-Salobro com 5.000 metros; e pequenos melhoramentos e consertos num total de 28.105 metros. No tocante aos currais – acrescenta o Sr. Ésio Araújo – para recolhimento de animais em dia de feira, praticamente não existia um só. Por esse motivo foram construídos os de Poção e Jenipapo, melhorados os de Alagoinha, Mutuca e Mimoso, e adquirido um terreno para a construção de outro no povoado de Socorro. A Usina elétrica de Poção estava necessitando de sérios reparos ordenados em relação ao elevado padrão de vida que presentemente atinge a todas camadas sociais do país. A ESTRUTURA DO ORÇAMENTO DE 1949 Indagamos do prefeito Ésio Araújo sobre a estrutura do orçamento de 1949 e, à pergunta que sacudimos, disse-nos que a receita prevista para o exercício vigente foi calculada de acordo com a arrecadação do ano de 1947, num montante de Cr$ 1.900,000,00. Na parte referente às taxas, foi incluída a de Contribuição de Calçamento que não constava nos orçamentos anteriores. Manuseando os orçamentos dos municípios mais adiantados do Estado, encontrá-la-emos figurando nos mesmos, desde há muitos anos. Dita contribuição obriga os proprietários de prédios e terrenos situados em vias e logradouros públicos onde for calçado, ao pagamento das respectivas taxas, o que seria realizado em dez anuidades, na ocasião do pagamento do Imposto Predial. A despesa foi fixada em quantia idêntica à da Receita, obedecendo, estritamente, ao que preceitua a Constituição do Estado. O SENADO DA CÂMARA DE CIMBRES Quanto ao Senado da Câmara de Cimbres, a municipalidade já dispendeu com Cr$ 11.100,00 para a sua restauração, tendo adquirido portas, janelas e outras cousas mais, de modo a que venha a tradicional e história casa do parlamento adquirir muito do seu primitivo aspecto arquitetônico. AS ESCOLAS RURAIS Já estão construídas as de Poção, Mimoso e Sanharó, em via de conclusão a de Cimbres. Esses prédios das escolas rurais foram construídos com um plano estabelecido entre o Ministério de Educação e o Governo do Estado. Para reforço de suas paredes e melhor cobertura, o município auxiliou com a quantia de Cr$ 8.687,00. PEQUENAS DIFERENÇAS NAS RENDAS DOS DISTRITOS DE SANHARÓ E ALAGOINHA. Falamos ao Sr. Ésio Araújo sobre o palpitante assunto que tem sido a emancipação dos distritos de Sanharó e Alagoinha. Adiantou o entrevistado, naturalmente, que fará alguma diferença à receita do município, talvez que de uns duzentos mil cruzeiros, incluindo o distrito de Jenipapo. Este ano porém, Pesqueira terá a mais do que o ano passado vinte e cinco por cento de imposto de Indústria e Profissão, perfazendo o total de 75%, cujas importâncias são entregues a prefeitura pela coletoria estadual, quinzenalmente levantaremos também em conta a contribuição do governo federal, que por uma lei reguladora do assunto, segundo uma circula recentemente recebida, terão os municípios, no corrente exercício, as suas quotas aumentadas para Cr$ 220.000,00. Igualmente foi aumentada a quota do governo do Estado de 50 para 70% do Imposto Territorial. O município com o que tem a receber cobrirá a falta que, financeiramente, poderia fazer os distritos de Sanharó, Alagoinha e Jenipapo. Naturalmente, que se esses distritos tivessem integrando o território pesqueirense, logicamente que a renda seria maior. Mesmo assim, contentamo-nos com o que ficou. Somente não nos contentamos pelo lado moral e social, porque vivíamos ligados desde o começo de nossa vida administrativa e agora nos separamos sem esperança de nos unirmos novamente. DO DOMÍNIO DA INSTRUÇÃO PÚBLICA. Prosseguindo com a palavra, responde-nos o prefeito algo sobre a instrução municipal, dizendo que foi o que com mais carinho olhou logo que assumiu o governo. As vinte e nove escolas rurais subvencionadas, dois meses depois foram aumentadas para cinquenta e duas, havendo, portanto, um aumento de vinte e três escolas, ou seja, 78% a mais. Em alguns distritos, nas casas de aulas, os seus proprietários mantinham cafés, hotéis, etc., tudo isso funcionando conjuntamente com a escola. Logo informado, tomei providências imediatas alugando salões que se adaptassem ao fim requerido. Durante o exercício que se inicia, a prefeitura procurará, dentro de suas possibilidades, suprir as escolas municipais de todo o material didático e pedagógico de que estão necessitando. Reparos, os quais foram executados, ficando com o seu prédio ampliado, tendo a prefeitura adquirido, para o accionamento de uma bomba de água, um motor de quatro e meio cavalos de força para o fornecimento desse líquido ao abastecimento da usina. ABONO DE NATAL Perguntamos se o funcionalismo fora contemplado com o abono de natal ao que respondeu que a Câmara Municipal aprovara em dezembro último uma lei concedendo aquele benefício aos servidores municipais. Não poderia ser negada tal concessão de vez que a mesma vem sendo concedida há anos pelos prefeitos anteriores, inclusive ele próprio. Nessa parte foram automaticamente aumentados os vencimentos de todos os funcionários, inclusive pensionistas. O SERVIÇO DE ABASTECIMENTO D’ÁGUA DA CIDADE Um serviço dos magnos problemas de Pesqueira é o da melhora do serviço de abastecimento d’água à população. Pedimos ao governador do município alguma coisa com que pudéssemos informar aos nossos leitores. Disse-nos então que o serviço do açude “Afetos” vai ser concluído ainda este ano, como lhe prometera, pessoalmente o governador Barbosa Lima Sobrinho. No início do ano findo, o governo do Estado citou, conforme mensagem à Assembléia Legislativa, todas as dotações que se referiam ao Fundo de Saneamento do Interior. Em Recife entrou em entendimento com o industrial Manuel de Britto e o deputado Arruda Marinho e todos em palácio mostraram ao governador Barbosa Lima Sobrinho o prejuízo que essa medida iria causar à Pesqueira, tendo então o chefe do executivo estadual prometido ajudar o andamento dos serviços do açude “Afetos” com uma verba mensal que, embora modesta, não ficariam os trabalhos paralisados. Mas o governador Barbosa Lima Sobrinho fez mais do que prometeu, prontificando-se, por fim, a concluir no seu governo, aquele importante melhoramento público. A prefeitura tem facilitado tanto quanto possível a ação dos engenheiros encarregados dos serviços. A POPULAÇÃO ESTÁ SATISFEITA A curiosa bisbilhotice desta reportagem informou ao prefeito que, ao que se dizia nos bastidores da cidade, a população pesqueirense está satisfeita com o seu governo. E em tom de quem encerra a entrevista já íamos com cerca de sessenta minutos de palestra, falou-nos textualmente o Sr. Ésio Araújo: Concluindo minhas declarações, tenho a dizer que certas acusações que de quanto em vez, surgem, não partem de um grupo maciço. A oposição, a verdadeira oposição de minha terra, pelas atitudes de seus líderes, não faz a menor restrição aos meus atos administrativos. A moção que a Câmara de Vereadores me dirigiu, no dia 15 de novembro último, era assinada por dois representantes dos partidos oposicionistas. A moção é clara e concisa, não deixa margem a comentários desairosos. São unânimes os srs. Vereadores municipais em apoiar todos os meus atos, pois eles refletem o sentimento de um pesqueirense que só deseja ter em vista a grandeza de Pesqueira. Como administrador, só prejuízo venho tendo, ao contrário de muitos que se aboletam no poder para enriquecerem facilmente. Infelizmente, este é um dos quadros desoladores que ultimamente o Brasil tem apresentado ante os olhos de seus filhos. Foto de Jurandir Carmelo. Jurandir Carmelo I BIENAL DO LIVRO DE PESQUEIRA. SALA DE IMPRENSA JORNALISTA PAULO DE OLIVEIRA, MEU SAUDOSO PAI.