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Treinos no quintal, olhar clínico e improviso… técnica garimpa joias do atletismo no agreste de PE

Por Elton de Castro e Roger Casé — Pesqueira, Pernambuco

 Glébia Galvão com Marco Antônio (E) e Jeohsah Santos — Foto: Roger Casé

Glébia Galvão com Marco Antônio (E) e Jeohsah Santos — Foto: Roger Casé

Resgatar vidas. Há 18 anos, esse tem sido o desafio da professora de educação física Glébia Galvão. Incomodada com a realidade dos jovens da cidade de Pesqueira, agreste pernambucano, ela passou a usar o esporte como ferramenta para dar oportunidade a possíveis atletas. O garimpo da “caça-talentos”, forma como se refere ao próprio trabalho, não faz distinção de condições físicas dos escolhidos. Pessoas com necessidades especiais são alvos? Para os olhos da treinadora, o talento pode ser achado em qualquer pessoa.

– É como se fosse um caça-talento. Eu olho a pessoa, vejo a possibilidade de evolução e faço eles acreditarem. E vou buscá-los nas ruas, nas escolas, fazendo frete nas feiras… Por aqui ser interior, tem muito menino que faz frete. Aí chego lá e falo: olha, o que você acha de ser atleta. Tem uns que não têm jeito nem querendo, ai também falo logo, mas tem muita gente que pode.

Conheça a história de superação de Jeohsah Santos, paratleta campeão brasileiro de salto em altura

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O olhar clínico de Glébia a fez descobrir o principal nome do salto em altura paralímpico do Brasil: Jeohsah Santos (veja no vídeo). Sexto colocado nas Paralimpíadas do Rio, em 2016, e dono da melhor marca nacional (1,85 metros, na categoria T44), ele é o carro-chefe da treinadora. No entanto, os resultados alcançados não são sinônimo de apoio. Para trabalhar, eles usam o quintal da casa do atleta. E creia, o cenário já foi pior.

“Antes a gente treinava em uma piscina. Ela colocava duas cadeiras, eu pulava e caia na piscina. Agora a gente treina no colchão. Não é o ideal, mas aqui a gente pode treinar a hora que quiser”, diz Jeohsah.

Foi treinando na piscina que Jeohsah se preparou para as Paralimpíadas. O panorama agora é um pouco melhor, mas a falta de incentivo fez com que Glébia tirasse “férias” da função de caça-talento.

– A gente treina no quintal de Jeohsah. Antes a gente chegou a treinar no ginásio da escola, mas muitas vezes tinha eventos e chegamos a ficar um mês sem treinar. Aí buscamos uma alternativa. Falta um pouco de apoio. Não sinto um apoio da cidade. Sou treinadora, mas também sou professora. Tem uma pessoa que quer ajudar, mas também precisa de ajuda. Então me dei um pouco de “férias”.

Treinamento em Pesqueira é feito na base do improviso e superação — Foto: Roger Casé

Treinamento em Pesqueira é feito na base do improviso e superação — Foto: Roger Casé

As férias forçadas, porém, não impediram que Glébia garimpasse sua nova joia: Marco Antônio. Dezoito anos, morador de um vilarejo de Pesqueira e com um talento bruto. Campeão Pernambucano Sub-20 e adulto, tendo pulado 1,97m (a melhor marca do Brasil é 2,30, de Talles Silva), ele agradece a Glébia a mudança cenário na vida.

“Eu poderia seguir lá na zona rural ou apenas estudando, mas com a ajuda dela eu me tornei um atleta. Ela me fez olhar o meu potencial e está me ajudando a desenvolver isso. Não tenho palavras para agradecer esse tipo de coisa.”

O agradecimento e a mudança na vida dos pupilos faz Glébia sonhar em conseguir dar mais oportunidades a jovens que, pela condição social, dificilmente conseguiriam sonhar em ter.

– Só queria o mínimo de estrutura. Treino Marco e Jeohsah mas, às vezes, tem mais oito ou 10 meninos. Mas não posso misturar, pois não posso treinar dois que têm um nível mais elevado ao mesmo tempo dos que estão começando. Atrapalha o atleta de alto rendimento. Às vezes a gente tem que tirar dinheiro do bolso para pagar viagens para competições. Com dois atletas eu até dou conta. Mas e se eu tiver 10? Gostaria muito de seguir fazendo esse trabalho voltado para o social. A criança pobre precisa de ajuda, mas você precisa ter condição dar a mão.

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