Home / Destaque / Um quarto dos mortos do coronavírus no Brasil está fora dos grupos de risco; 5 vezes mais que na Espanha

Um quarto dos mortos do coronavírus no Brasil está fora dos grupos de risco; 5 vezes mais que na Espanha

13 de abril de 2020, 09:58

247 – Um levantamento realizado pelo jornal O Globo com base nos dados oficiais do Ministério da Saúde indica um perfil inédito e alarmante da disseminação do coronavírus no Brasil: uma inesperada aceleração das mortes de pessoas fora dos grupos de risco nos últimos 15 dias. Nada menos que um quarto (25%) dos mortos no país devido à epidemia são pessoas com menos de 60 anos e sem comorbidades que agravam os sintomas. Isso liquida de vez com toda a tese de Jair Bolsonaro sobre o combate à pandemia

Até o dia 27 de março, apenas 11% dos óbitos foram entre pessoas com menos de 60 anos, e somente 15% das vítimas fatais não apresentavam comorbidades. Agora, porém, esses índices aumentaram — 25% das mortes ocorrem entre pessoas com menos de 60 anos, e 26% dos óbitos foram em pacientes sem registro de doenças preexistentes, como diabetes, cardiopatias e pneumopatias.

O Brasil está apresentando um padrão diferente de países como a Espanha, o segundo com maior número de mortes — quase 170 mil, atrás apenas dos EUA. No Brasil, a proporção de pessoas abaixo dos 60 anos de idade que morreram pela Covid-19 é mais de cinco vezes maior que a registrada na Espanha (4,6%). Segundo o boletim mais recente do Ministério da Saúde, neste domingo, o Brasil tem até agora 22.169 pessoas diagnosticadas com o novo coronavírus, e 1.223 óbitos. O balanço de sábado contabilizava 20.727 contaminações e 1.124 mortes.Com base na premissa de que a doença é mais perigosa para idosos e pessoas com comorbidades, Bolsonaro e empresários bolsonarista têm defendido a estratégia conhecida como isolamento vertical, na qual apenas as pessoas consideradas dentro de um grupo de risco seriam submetidas ao isolamento social. O Ministério da Saúde, no entanto, vem defendendo que ainda não é hora de relaxar as medidas de isolamento para todos os que podem ficar em casa.

Os números estão causando enorme preocupação nas autoridades de saúde do país. O secretário-executivo do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Jurandi Frutuoso diz que o aumento das mortes entre pessoas fora dos grupos de risco no Brasil mostra que isolamento vertical defendido por Bolsonaro é despropositado: “Se você tem um número cada vez maior de jovens e pessoas saudáveis morrendo da doença, não faz sentido falar em isolar grupo de risco”

Para o professor do Departamento de Epidemiologia da USP, Eliseu Alves Waldman, o início da epidemia entre os pobres é que está mudando o perfil da doença no país: “O coronavírus pode se expandir muito nessa região (nas periferias), porque as condições de moradia são mais frágeis. As casas são pequenas, e há várias dividindo o mesmo dormitório”.

A italiana Marta Giovanetti, professora visitante da Fiocruz, afirma que a estratégia bolsonarista de exposição das pessoas ao vírus levará ao caos: “Algumas pessoas podem ter pensado que valeria a pena expor a população que não pertence à zona de risco e levá-las ao trabalho, mas sabemos que elas também podem ser vulneráveis. Todos estão sujeitos ao contágio, e pode haver uma procura em massa do SUS, o que vai gerar em seu colapso”.

Participe da campanha de assinaturas solidárias do Brasil 247. Saiba mais.

Deixe seu Comentário

Your email address will not be published. Required fields are marked *

*

Scroll To Top