

Há histórias que não devem apenas ser contadas, mas celebradas — como um tributo à infância inspirada, à educação com valores, e ao poder transformador da imaginação. É assim com a história dos irmãos Mauro e Marcelo Alcherne, dois garotos pesqueirenses que, ainda na tenra idade de 12 e 13 anos, surpreenderam o Brasil ao reconstruírem, com as próprias mãos e com alma de artistas, uma réplica perfeita da Matriz de Santa Águeda, a mais imponente construção de Pesqueira.
Na época, Pesqueira era um berço efervescente de cultura e desenvolvimento. Igrejas, fábricas, educandários e casarões brotavam das mãos de operários e mestres de obra, e os olhos atentos das crianças daquela geração captavam tudo com espanto e reverência. Sem internet, celulares ou computadores, as brincadeiras tinham outro ritmo: nasciam da observação, da curiosidade, da fé, e de uma sólida base educacional que incluía aulas de matemática bem fundamentadas, domínio da língua portuguesa, teatro, jograis, aulas de música, jornais escolares e corais que enchiam de vida os pátios das escolas e as salas de aula. Era um tempo em que a educação, a religiosidade e a convivência comunitária moldavam pequenos gênios.
Foi nesse ambiente fértil de saber e espiritualidade que Mauro e Marcelo, filhos do respeitado comerciante Sr. Nelson Avelar Alcherne e de D. Alina Mota Alcherne, foram crescendo, justamente ao lado da Catedral de Santa Águeda. A igreja não era apenas uma construção para eles — era um símbolo de grandiosidade, fé e beleza. Inspirados por tudo o que viam ao seu redor, decidiram nas férias escolares, como num impulso criativo irresistível, erguer com as próprias mãos uma miniatura idêntica da Matriz. E não se tratava de um simples maquete: a pequena catedral reproduzia com maestria cada detalhe da original — suas torres, colunas, vitrais, até os santos no interior. Uma réplica de alma, não apenas de forma.
A ousadia encantou. Em setembro de 1957, a famosa revista O Cruzeiro, de circulação nacional e internacional, dedicou uma página à obra dos “engenheiros mirins”, sob o título: “Uma Igreja em 40 dias”. Na foto, a monumental Catedral de Santa Águeda dividia a cena com sua encantadora irmã menor, construída com tanto zelo por dois meninos em férias. Uma obra que, segundo o próprio pai dos garotos, não resistiria trinta dias. Mas já são mais de sessenta anos.

A igrejinha ainda está de pé, viva como um relicário de sonhos infantis. E hoje, sob os cuidados de D. Marina, irmã dos construtores, continua recebendo visitas de admiradores, curiosos, turistas e estudiosos. Gente que se emociona diante da preciosidade de uma criação nascida do brincar com propósito, da infância encantada pela fé e pela beleza.
Tanto Mauro quanto Marcelo se tornaram arquitetos — era o destino natural de quem desde cedo já compreendia a linguagem das formas, das proporções e dos sonhos edificados em tijolos. Mauro, infelizmente, já não está entre nós, mas sua obra vive. Vive na igrejinha que resiste ao tempo. Vive na memória de Pesqueira. Vive no exemplo de uma infância bem vivida, rica de estímulos e de encantamento.
É essa Pesqueira mágica, repleta de histórias comoventes como essa, que precisa ser contada, lembrada e preservada. Uma terra onde os meninos constroem igrejas com as mãos e com o coração. Uma terra onde o impossível parece só mais uma etapa do brincar.
Francisco Mendes Galindo,10/04/2025.