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As Vaias Saíram Pela Culatra. Artigo Pela Escritora Ana Lígia Lira

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Sempre me orgulhei em dizer que sou da terra onde se produz uma das rendas mais delicadas do planeta. Terra de intelectuais tão notáveis que ganhou o apelido de “Atenas do sertão”. Lembro que, durante minha adolescência, quando eu passava em frente as fábricas Peixe e via o busto de Dona “Inhanhá”, fundadora daquele império, eu pensava: – Como deve ter sido delicada esta mulher para poder conquistar a todos com seus doces.

Mais tarde, com o hábito da leitura aprimorado nos livros da biblioteca municipal, descobri em “Lampião, seu tempo e seu reinado” que além de doce ela era forte e havia, inclusive, defendido a cidade contra uma provável investida de Lampião.

Tornei-me escritora para contar as histórias do mundo, mas cada escritor guarda em si um mundo próprio e o meu mundo sempre terá as marcas de uma cidade chamada Pesqueira. Gosto do sotaque da minha gente, da força e da delicadeza que andam juntas sem jamais duelar. Gosto do bem receber, do bem servir, do bem ser. Coisas que aprendi com a gente simples desta cidade espetacular e que espalho na vida de tantos personagens que escrevo.

No entanto, não sei o que aconteceu, mas nada disso condiz com a cena que presenciei no ultimo sábado ( 6 de setembro), na ocasião da chegada da comitiva de um candidato a governador em nossa cidade.

Em primeiro lugar, quero deixar claro que não tenho compromisso ou divida politica com quer que seja. Não devo um passo de minha carreira a nenhum politico da face da terra e isto é ótimo porque me permite a liberdade de expressão.

Aprendi com minha mãe, que sempre preparava a casa e as melhores comidas para as visitas, que devemos oferecer aos que chegam em nossa casa o que de melhor temos. Se há roupa suja, que se lave em particular. Não é preciso expor aos de fora as nossas fraquezas.

Pessoalmente, considero o Ilmo. Sr. Prefeito, um homem digno, um grande profissional e alguém que tem tido a coragem de administrar uma cidade falida por uma sequencia de más administrações, sem renda suficiente de impostos, praticamente sem industrias, mergulhada em uma onda de descrença e desemprego, sucateada em todos os aspectos. É preciso esquecer a prepotência e admitir onde estamos para, só assim, termos a possibilidade de avançarmos em direção a um futuro mais promissor. Creio que nem ele próprio sabia o real cenário que o esperava, pois inteligente como aparenta ser, por certo não teria entrado em uma eleição para administrar algo que , por tantos problemas, é quase inadministrável. Outra coisa que é preciso que se diga é que o oficio da medicina dá menos dor de cabeça e mais rendimentos do que qualquer prefeitura em dificuldades. Preciso ainda fazer justiça aqui dizendo que no mundo da politica, onde tudo que se faz se comenta e por onde por muito tempo transitei, a reputação do Dr. Evandro Maciel é de um homem muito honesto e que não sede a negociatas.

Mas, independente destas questões, é bom lembrarmos que o administrador que temos ( considerem ele bom ou ruim) é escolha democrática e da maioria. Quando, um pequeno grupo, orquestrado por quem quer que seja, se dispõe a vaiar a escolha de todos, vaia, na verdade, a cidade de Pesqueira e não um cidadão em particular.

Amo minha cidade e o meu povo. Nunca esperei que o prefeito ( este ou outro) fosse um salvador da pátria. Imagino os problemas que devem estar sendo enfrentados para que Pesqueira não trave, coisa que economicamente já era para ter acontecido. Não sou filiada a nenhum partido. O meu partido é o partido dos que respeitam a escolha da maioria, zelam pela democracia, amam a boa educação e o respeito ao próximo e se mexem para melhorar as coisas.

Melhor do que vaiar é tentar entender o porque das dificuldades e procurar fazer sua parte como cidadão. As vaias deram uma impressão completamente equivocada aos nossos visitantes da educação que temos. Vergonhoso não foi para o Senhor Prefeito, a quem me solidarizo, mas sim para todo o povo de Pesqueira no qual me incluo.

Sei que muitos vão argumentar em defesa daqueles que produziram tão lamentável espetáculo. No entanto, o que ouvi nas Ruas da cidade foi que a população que honra o titulo de cidadão da “Atenas do sertão”, de “terra do doce e da renda” compartilham do mesmo sentimento de vergonha alheia que eu. Vergonha alheia não pelo Prefeito, mas sim por parte da população que desceu a este nível.

São estas pessoas que reagem com trabalho e esperança e não com vais que um dia mudarão os caminhos da nossa cidade. São estas pessoas que merecem a confiança de um dia trazerem de volta a pujança de nossa cidade, pois elas guardam a majestade de nossos antepassados. As vaias não mudarão nada. Espero que a desaprovação popular a este ato transforme ao menos a educação de quem vaiou.

Quanto ao Prefeito, o que eu entendo é que tanta gente se solidarizou com ele neste episodio que ele saiu muito maior e mais fortalecido do que quando subiu naquele palanque. Se foi um ato orquestrado por alguém da concorrência, sinceramente, nunca vi tamanho tiro no pé.

É isso. A politica sempre surpreende. Às vezes, levar vaia só faz um politico crescer aos olhos dos que realmente lhe interessam. Tem gente que é como massa de bolo: Quanto mais apanha, mais cresce. #aprendamos!

Ana Lígia Lira

Escritora

Grupo Editorial Leya/Portugal

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