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Brasileiro pode ser recordista entre serial killers, diz criminologista

 

 

 

 

Alessandra Corrêa
De Winston-Salem (EUA), para a BBC Brasil

 
  • Evaristo Sa/ AFP

Caso se confirmem as 39 mortes confessadas em Goiânia, segundo a polícia, pelo vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha, o brasileiro estará entre os serial killers mais letais da história moderna. É o que afirma o professor de criminologia americano Scott Bonn, da Universidade Drew, em Nova Jersey (EUA).

A polícia de Goiânia diz que Rocha, de 26 anos, cometeu os crimes a partir de 2011. Entre suas vítimas estão moradores de rua, homens gays e jovens mulheres. Rocha foi preso na semana passada numa operação policial.

“Isso [o total de vítimas] o colocaria no topo do ranking, ao lado dos mais prolíficos serial killers da história moderna”, disse Bonn à BBC Brasil.

Bonn, autor do livro “Why We Love Serial Killers” (Por Que Amamos Serial Killers”, em tradução livre), a ser lançado na próxima semana, compara o brasileiro a psicopatas americanos que ficaram célebres por seus crimes.

“Ele parece ser um psicopata, como Ted Bundy, John Wayne Gacy, Dennis Rader ou Gary Ridgway, que foram alguns dos mais prolíficos serial killers da história americana”, diz Bonn.

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Psicopatas

Acredita-se que Ted Bundy, executado em 1989, tenha estuprado e assassinado pelo menos 36 mulheres nos anos 1970. Considerado bonito e extremamente carismático, ele atraía suas vítimas muitas vezes fingindo algum tipo de ferimento e pedindo ajuda. Diferentemente de Tiago, Bundy não usava armas de fogo, preferindo golpear ou estrangular suas vítimas.

John Wayne Gacy torturou, violentou e assassinou pelo menos 33 rapazes nos anos 1970. Ele era considerado um membro exemplar da comunidade, inclusive se vestindo de palhaço em eventos beneficentes para arrecadar fundos para caridade, o que o tornou conhecido como “o Palhaço Assassino”.

Dennis Rader torturou e matou dez homens e mulheres de diferentes idades entre os anos 1970 e 1990 no Estado do Kansas. Ele costumava enviar cartas à polícia e a jornais detalhando seus crimes. Já Gary Ridgway foi condenado por matar 49 mulheres a partir dos anos 1980, mas acredita-se que o número de vítimas possa passar de 90.

“Todos eles eram completos psicopatas, e só foram pegos porque acabaram cometendo algum erro”, observa Bonn.

O Brasil também já teve outros casos célebres de serial killers, como Pedro Rodrigues Filho, o “Pedrinho Matador”, acusado de mais de 70 mortes, entre elas a do próprio pai, e Francisco das Chagas Rodrigues de Brito, que estuprou, matou e castrou 42 meninos no Maranhão e no Pará entre 1991 e 2003.

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Missão

O criminologista ressalta que, assim como Rocha, os psicopatas americanos mencionados por ele levavam vidas aparentemente normais, sem despertar suspeitas.

Vizinhos e colegas de Rocha se declararam surpresos com a revelação dos crimes. Seus empregadores afirmaram que até então a conduta do vigilante no ambiente de trabalho era “irrepreensível”.

“Psicopatas usam máscaras, conseguem fingir ser perfeitamente normais. Sabem qual a coisa correta a dizer e a fazer em cada situação. Eles não sentem emoções, mas são muito bons em fingir emoções. Conseguem se camuflar, como um camaleão”, diz Bonn.

Bonn salienta que psicopatas não são doentes mentais. “É um transtorno de personalidade. Esses indivíduos são capazes de compartimentalizar suas vidas. Ele [Rocha] trabalhava em um hospital, poderia parecer um cara legal. Mas tinha esse alter ego”, afirma.

A escolha das vítimas feita por Rocha, que diz ter matado homossexuais e pelo menos oito moradores de rua, leva o especialista a classificar o brasileiro em uma categoria de serial killers definida como “mission killers”, ou assassinos com uma missão.

“É alguém que imagina, em sua mente perturbada, estar fazendo um bem para a sociedade. É uma forma de racionalizar seus crimes”, afirma.

Bonn lembra o caso do ex-fuzileiro naval Itzcoatl Ocampo, acusado de uma série de assassinatos em Los Angeles entre 2011 e 2012, cujas vítimas principais eram moradores de rua.

“Ele estava revoltado porque havia sido treinado para ser um atirador de elite no Iraque, mas nunca pode colocar isso em prática. Então, decidiu livrar a sociedade dos moradores de rua.”

Rejeição e abuso

O ex-advogado de Rocha revelou que seu cliente havia sofrido abuso sexual na infância e bullying na escola.

Para Bonn, é provável que esse tipo de experiência tenha deixado no brasileiro um sentimento de raiva.

“[Os crimes] eram sua maneira de canalizar essa raiva. Ele sentia que havia sido abusado pela sociedade e encontrou uma maneira de revidar”, diz.

O criminologista observa que no caso dos assassinatos de mulheres atribuídos a Rocha, há indícios de que os crimes não tenham tido motivação diretamente sexual.

Desde janeiro deste ano, pelo menos 15 mulheres foram assassinadas a tiros em Goiânia por um motociclista com o rosto coberto. Agora, acredita-se que Rocha seja o autor desses crimes.

“O fato de que ele atirou contra elas à distância indica que não há um componente sexual para esses crimes, que tinham outra motivação. E suspeito que seja porque ele simplesmente tinha raiva de mulheres, por ter sido rejeitado quando era mais jovem”, afirma.

Segundo os policiais que trabalham no caso, Rocha teria dito que sofreu traições e desilusões amorosas. O suspeito também teria demonstrado desconforto com a presença de mulheres durante seus depoimentos.

Além dos assassinatos, Rocha é investigado por cerca de 90 roubos. Ao ser preso, ele pediu ajuda médica.

Bonn salienta, porém, que não existe cura para um psicopata. “Tipicamente, psicopatas são isolados nas prisões e podem aprender a obedecer as regras e até se tornarem prisioneiros modelos. Mas não há cura.”

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