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Canetadas (Por Jurandir Carmelo > Pesqueira/PE, 19/07/2014)

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Não poderia melhor celebrar a volta de Canetadas, depois de um breve recesso, se não fosse escolhendo um tema leve para escrever, sobre o qual, teimosamente, busco rabiscar algumas considerações, principalmente, depois de ler a apresentação do professor Antonio Guinho e o posfácio da poetisa Djanira Silva, ambos no rol dos melhores da nossa literatura, da nossa poesia.

É, portanto, enorme desafio deste jornalista matuto falar sobre a história de uma menina, por ela mesma contada, nas páginas do seu livro “VITRAIS DA PALAVRA”.

Maria José Torres Klimsa, ou, carinhosamente Zezita Torres, nascida nas brenhas campesinas de Pesqueira, na casa grande da Fazenda Santa Fé, de seus saudosos pais Celestino e Maria Torres, em cujas paredes de seus quartos permanecem o cheiro de maternidade, como diz a autora, à fl. 69 do seu livro: (…) “O quarto dos pais ainda tem cheiro de maternidade: ali vieram à luz todos os filhos” (…), nos brinda com uma obra que nos remete à vida de menino, na saudável convivência com a infância e com as travessuras de criança.

É a história de uma menininha matuta, que guardando na sua memória os caminhos percorridos da infância e adolescência, depois de se tornar mulher, professora, poeta e escritora, resolveu contar, creio, com pedaços de vidros coloridos arrancados com os olhos da alma e do coração, das molduras assentadas no alto das paredes da Igreja da Imaculada Conceição, do convento dos frades, ou da Igrejinha de Nossa Senhora Mãe dos Homens, também, conhecida por igrejinha do bispo, da terra que lhe serviu de berço, para assentar no papel, em preto e branco, juntando os cacos da história, em forma de letras, palavras e escritos, tal qual uma operária do saber, para a construção do seu livro “VITRAIS DA PALAVRA”.

O livro “VITRAIS DA PALAVRA” dispensaria maiores comentários, principalmente, depois da apresentação feita por um cidadão de reconhecida e rara sensibilidade no campo das letras, seja como escritor, poeta, professor, psicólogo, psicanalista de jovens e crianças, enfim, um Homem completo no campo do saber, de alma e coração infanto-juvenil da qualidade de ANTONIO GUINHO. Pessoalmente não o conheço, mas já li muita coisa da sua obra, do seu trabalho, podendo, portanto, afirmar que se trata de uma sumidade em matéria de cultura.

Na sua exposição intitulada de “O DRAGÃO DOMADO”, escreve o professor Antonio Guinho, operário maior da “Oficina de Construção de Textos”, na qual a nossa amiga e professora Zezita Torres, foi se descobrindo escritora. O livro de Zezita é um misto de histórias e poesias, de contos e sentimentos, de palavras leves como os vitrais, de abraços apertados na sua infância e juventude.

Vejamos o que escreveu o professor Antonio Guinho sobre “VITRAIS DA PALAVRA”, aqui transcrito na íntegra (não dá para publicá-lo pela metade, em pedaços, se assim fosse seria um pecado…):

O DRAGÃO DOMADO

Quando Maria José Klimsa chegou ao Jardim Literário – nome que atribuímos à oficina de construção de textos que ministramos de 2006 a 2010 -, profetizamos que a aluna teria mais dificuldades com a escrita criativa do que os demais, por uma simples razão: Mazé tinha o completo domínio da língua. Professora de Língua Portuguesa e de redação, revisora, perfeccionista, tanto nos textos quanto na vida, haveria para ela um imenso desafio: soltar a criatividade, o que significa entregar-se às forças do inconsciente sem censura.

Como fazer isso sob o julgo ditatorial de um censor severo, vigilante da ortografia, isto, da escrita correta?

Como se entregar ao furor da criação, soltando-se na louca solta fantasia, com uma voz superegoica a todo momento, indagando inquisitorialmente: isso está certo? É assim mesmo que se escreve? Esta é a melhor forma de se expressar?

A profecia cumpriu-se à risca. Dava pena ver Maria José lutando contra a perfeição. Mas aguerrida que é, lutou e lutou até subjugar o dragão. Um São Jorge de saia, montado num cavalo de letras, palavras e textos, eis que temos agora uma escritora completamente solta, viajando nas asas da fantasia. Senhora do dragão e não sua escrava.

Agora, a então inimiga, a escritora correta, torna-se a sua melhor amiga. Escrever corretamente é mais do que desejável quando não se constitui num obstáculo.

Assim, tivemos o primeiro voo, ancorada ainda no verismo da biografia do prestigiado tio padre, com o livro “Padre Olímpio Torres, pelas veredas da serra” que, apesar de biográfico, já vemos Maria se soltando na prosa poética.

Agora, com “Vitrais da Palavra”, o dragão tornou-se um gatinho, sob o completo domínio da escritora e seu fiel servidor.

Parabéns Mazé! E como diz Buzz, o herói de Toy Story, “Ao infinito e além”. (Antonio Guinho)

Caríssimos leitores de Canetadas

Depois do exórdio de Antonio Guinho, nada mais teria a acrescentar sobre o livro de Maria José Torres Klimsa, ou simplesmente Zezita Torres, ou agora “MAZÉ”, como quer o mestre Guinho. Mas, como sou teimoso, insisto entre esses dragões da literatura, mesmo sabendo que o perfeito conhecimento de mim próprio, limita a vontade de melhor descrever o que penso o que solto nestas linhas desencontradas.

E como se não bastasse o texto de Antonio Guinho, ainda, por cima, e após tudo, vem o POSFÁCIO assinado por Djanira, essa outra pesqueirense (de quem sou eterno apaixonado) que nos encanta com as suas poesias, marcadas pela “seiva da terra” que lhes corre as veias, como diria o Mestre Potyguar Matos.

Vem Djanira e diz: “Em nada me surpreende a escrita e a criatividade de Maria José Torres Klimsa, qualidades reconhecidas na Oficina de Antônio Guinho, onde contos e crônicas, apresentados, por ela, despertavam a atenção e o interesse do mestre. Estamos, dizia ele, diante de uma escritora”.

Sobre o livro “VITRAIS DA PALAVRA”, anota a poetisa e acadêmica pesqueirense, e de outras academias mundo afora, às fls. 151/152:

(…) “As narrativas fluem sem tropeços, sem medos. Não teme a palavra. Usa o termo certo na hora exata. Pouco importa que possa parecer estranho. Cabe na medida do texto”. (…)

Adiante, acentua a filha de seu Carlos Silva e dona Antônia: (…) Há um profundo conhecimento dos mistérios de quem mergulha em si mesma, para salvar tudo quanto possa e trazer à tona as histórias encravadas na memória, orquestradas pelo tempo e pela vida, prontas para serem contadas. Uma realidade vestida de fantasia que, aos poucos, vai nos envolvendo e transformando no que é, no que parece ser, na verdade que precisa ser vista e acreditada. Descobrir estes caminhos, é mister do escritor.”

Lá mais frente, acrescenta Djanira:

(…) Ouvi, certa vez, de um escritor renomado, que o artista não tem compromisso com a realidade. E, é nesse descompromisso, que ela nos entrega crônicas como Diário de uma jovem ânsia, Recortes de festa, Da cor da Raiva, além de poemas feitos com os cheiros e os sabores da vida.

Canetadianos e Canetadianas (agora vão dizer: endoidou de vez…)

O livro de Zezita Torres retrata em cores vivas como o colorido dos vitrais, mesmo que em preto e branco, pedaços de sua história de menina, de adolescente, de mulher extraordinária que é; também, fala com carinho de seu pai Celestino, de sua mãe Maria, de seus irmãos Antonio, Fernando e Rita, todos de sobrenome Teixeira Torres, nascidos na Casa Grande da Fazenda Santa Fé, fincada na zona rural do município de Pesqueira. Foram eles caminhantes na trilha ladeada pelo aveloz, que para chegar à cidadezinha enfrentavam ora o sereno da aurora, ora o castigante sol do meio-dia ou a escuridão reinante das noites sem luar, ou embaixo da chuva que molhava a vontade de vencer, mas que não impedia o caminhar rumo à vitória. E foi assim, por muitos anos, até tomarem assento na civilização urbana, a Cidade de Pesqueira.

No início destas notas, quase alfarrábios de um jornalista matuto, provinciano mesmo, por prolixo que sou, tomara não enfadonho, afirmei ser o livro de Zezita, tão leve como os vitrais que ela carrega em si, desde os tempos de criança (Menina de trança, não é mais criança…), tanto assim que o livro “VITRAIS DA PALAVRA” inicia com os versos do poema MEMÓRIA, que Drummond nos brindou nessa quase oração:

Amar o perdido

deixa confundido

este coração.

Nada pode o olvido

contra o sem sentido

apelo do Não.

As coisas tangíveis

tornam-se insensíveis

à palma da mão.

Mas as coisas findas,

muito mais que lindas,

essas ficarão.

Drummond é Drummond… Fim de papo!

Zezita Torres insiste e vai buscar em Drummond a sua inspiração maior para contar a sua história de vida, de menina, demonstrando a ansiedade que teve de enfrentar nos preparativos que antecediam do dia da sua primeira comunhão.

Observa-se pelo dito da autora, que vivia ela um estágio de ansiedades mil, misturado com a angústia; a ânsia para usar o vestido branco e os seus adornos, que a deixava quase uma “noivinha”, sem pecados é claro, a “torturava”.

A ânsia, contada por ela própria, dos preparativos para a sua eucaristia, se nos apresenta como que remetia Zezita a conflitos internos na sua cabecinha de criança, pois tinha de se ver doutrinada sobre os mistérios de Deus, ao tempo que tinha de fazer exame de consciência, sem ter a consciência, aos sete anos de idade, do que era pecado. Mas, juntando todos esses fatores a soma era de felicidade.

Vejamos o que diz Zezita (págs. 27/28/29): (…) Aproximava-se o dia. O vestido, costurado pela madrinha (arrisco: quem sabe se não foi a minha saudosa amiga da Rua Barão de Vila Bela, dona Obdúlia Soares?) estava quase pronto. A felicidade se costurando no corpo, alma se apertando, prestes a entrar na berlinda do confessionário. (…) Oito dias antes, a temida confissão. Angústia e alegria se digladiando. Quantos pecados conseguira pôr na lista do exame de consciência? Enfim, juntei as raivas com a mãe – que me tirava da melhor hora de brincar – e umas arengas com os irmãos. Só com isso, o rol continuava pequeno. Será que o frade, gringo brabo, iria brigar?

“Dor de barriga chegou o momento. Ajoelhei-me. Olho grelado, ouvido encostado na treliça de madeira do confessionário. O coração mais parecia que acabara de pular corda no terreiro, quase a sair junto com o que nem chegava a ser uma lista. (…) De penitência, rezar ave-marias, disse o confessor. Esqueci o número, fui generosa para ter a sensação de me livrar da culpa. De quê?”.

(…) “Antes, a tortura para arranjar pecados; agora, para não cometê-los” (…).

Em tempo: A minha mãe Dona Ninfa Araújo, disse-me certo momento: “no dia da sua primeira confissão, com Padre Noval, você foi acometido de uma gagueira impressionante, que chegou a ser tratada por Dr. Lídio Paraíba”. Logo pensei: com oito (8) anos de idade não podia ter tantos pecados. Se não eram os pecados era medo do padre Noval. Não conheci até hoje uma criança de Pesqueira que não tivesse medo de padre Noval. Existiam crianças que se escondiam ao avistar o pároco geral da Catedral de Santa Águeda. Ainda bem que Zezita teve a sorte de ter um frade, gringo brabo, como o seu confessor. Mas mesmo assim foi lhe perguntar se ela ficou gaga.

Respeitados leitores de Canetadas

O livro de Maria José Torres mexe com o leitor, levando-o ao túnel do tempo, revivendo os caminhos percorridos, mesmo que não fosse o caminho da terra nua, dos cipós e fechada lateralmente pelo aveloz que interligava a Fazenda Santa Fé à cidadezinha de Pesqueira.

O livro “VITRAIS DA PALAVRA” não dá para ser lido pela metade. Ele tem uma espécie de imã que nos prende à cada página, título, assunto, e tem um efeito de carrinho de rolimã ou de rolamentos, que sai deslizando como de ladeira abaixo, até a última página. É o livro que todos gostariam de escrever, contando a sua infância, buscando as suas raízes, observando as travessuras que fazia.

Mas, como em todo livro, há capítulos que deixam o leitor ainda mais apaixonado, se bem que no livro de Zezita tudo nos seduz.

Lá pras bandas das páginas 93/94, a escritora da Fazenda Santa Fé, nos brinda com o texto musical de Cláudio Almeida, uma espécie de pesqueirense porreta, no sentido positivo da palavra, revelando-o um homem bom, alto astral, legal, camarada, bacana, com a letra e música de sua autoria, denominada “FESTA DE SANT’ÁGUEDA”, uma homenagem à Padroeira da nossa terra Pesqueira. Vamos Conferir:

Festa de Sant’Águeda

(Cláudio Almeida)

Festa de Sant’Águeda

Eu vejo agora a infância

Voltando com a tradição

Festa de Sant’Águeda

Eu vejo aquela criança

Sozinha com a multidão

Festa de Sant’Águeda

A ingenuidade de ontem

Só hoje me faz revelar

Tanta alegria que existia

Naquele espetáculo que a terra

Tinha a me mostrar

Lembro da Zabumba de Honorato

Dos fogos de Tibila

Da Banda e a Procissão

Lembro das corridas lá nos parques

E eu com aqueles trajes

Ah! Que tanta emoção

Lembro da Turma da Velha Guarda

Animando a barraca com suas belas canções

E o Pastoril com a Diana

As Pastoras e o velho

Muitas arrematações

Nunca o meu hoje vai ser ontem

Lá ficou a minha infância

E a festinha foi morar

Na minha memória, do lado da história

Que cada um de nós tem pra contar.

(Um tempo para o autor de Canetadas, sem segundo tempo nem prorrogação…): Sempre considerei a música de Cláudio Almeida o mais sentimental e profundo relatório sobre a Pesqueira de ontem e de hoje, o qual nos revela, com muita tristeza, a decadência de um povo, de uma terra, com a morte prematura de uma das suas mais efetivas tradições, a FESTA DE SANT’ÁGUEDA.

Com o fim da festa da padroeira, aquela criança ficou mais sozinha, pois foi a multidão; a ingenuidade de ontem não mais revela a alegria que existia, pois não tem mais o espetáculo que a terra tinha para mostrar; A Zabumba de Honorato, silenciou; os fogos de Tibila, não ecoam mais os seus estampidos; a banda parou de tocar; só a procissão ficou, graças aos céus, para saudar a nossa padroeira; os parques não foram mais armados, a roda gigantes deixou de girar e quem estava embaixo não mais subia, que estava em cima não mais descia, hoje todos no chão…; Para que mais trajes, meu amigo Cláudio, se já não existe mais emoção. A Turma da Velha Guarda restou na lembrança, hoje sem músicos, sem instrumentos, sem melodia… Talvez seja melhor assim, pois não temos mais a barraca para animar, com belas canções. E o pastoril com a Diana e as pastoras, por onde andam? Será que o velho cansou? Nem mesmo as arrematações para colher dinheiro com o Peru de Dona Marieta Pitta, para renovar as cores da igreja catedral, tem mais sentido. Cláudio Almeida tem razão: (…) Nunca o meu hoje vai ser ontem; Lá ficou a minha infância; E a festinha foi morar; Na minha memória, do lado da história; Que cada um de nós tem pra contar. (…)

Canetadianos e Canetadianas (Parece até Walter Ramalho, fazendo a apresentação do encontro da Colônia – GNP > Colonianos e Colonianas).

“VITRAIS DA PALAVRA”, com riqueza de detalhes não fala apenas da Festa de Santa Águeda da autora, de seus irmãos. Ela diz da festa que foi a grande alegria de toda criança pesqueirense, viesse ela do mato, dos distritos, dos povoados, os dos bairros da cidade.

Os dois capítulos contidos às páginas 73/74 (TERREIRO, A ANTESSALA DA FESTA DA PADROEIRA) e 75/94 (RECORTES DA FESTA DE SANTA ÁGUEDA) mexem com a estrutura emocional de cada um de nós, quando assevera:

(…) Anunciando a festa da padroeira, cedo começava a advertência materna. Saia desse sol, menina, senão você vai ficar muito queimada pra Festa de SANT’ÁGUEDA!

O dilema se instalava: deixar as brincadeiras suadas, a companhia dos amigos, a descontração do terreiro ou obedecer à mãe? Cruel decisão. Somada ano após ano, essa conta a santa ainda me deve. Retirava-me com a pele não tostada, mas com o coração abrasado pelo sol do afeto daqueles que lá ficavam ignorando o porquê da minha chateação. E eu tentava acatar as preocupações que não eram minhas. Minhas eram as fantasias sobre a festa (…).

(…) E lá estava eu a me questionar: minha pele estaria muito queimada, Sant’Águeda? Um ano de preparação em troca de cinco noites de folguedos sob os olhos cerrados da Serra do Ororubá (…).

E Zezita, para nossa alegria e recordações mil, sabe bem cacetear as nossas emoções, pô-las em efusão, como na pia batismal. Sabe prender o leitor. Ela, em festa de Santa Águeda, quando inseriu na sua obra, talvez não tomasse conhecimento de que esse gesto representa o mais efetivo protesto pelo fim dos “folguedos” das cinco noites a que tão bem se referiu, com o agravante de que a Serra do Ororubá desviou o seu olhar, fechou o olho para não ver a festa acabar.

E quando a menina da Fazenda Santa Fé começa à fl. 75, avança “Descortinando a cidade”, não dá tréguas para que o leitor, pesqueirense ou não, possa enxugar as lágrimas da saudade, imorredoura saudade, da terra amada de ontem, da Festa, da banda, da Zabumba de Honorato, dos namoros conquistados ou dos namoros acabados, da Turma da Velha Guarda, lembranças tão vivas na nossa memória, ou como disse Cláudio Almeida: (…) na minha memória, do lado da história; Que cada um de nós tem pra contar (…).

Com riqueza de sentimento d’alma, a sempre menina de seu Celestino Torres, mostrou que Pesqueira é um pedaço do agreste e que abre as portas dos sertões de Euclides da Cunha; que Pesqueira nasceu junto aos pescadores, em torno de um poço, que o capitão fundador mandou furar, não esquecendo que a serra sempre majestosa foi reduto e voltou a ser dos Xucurus.

Zezita falou da produção de frutas e verduras, da riqueza natural da região, não dispensando registrar o casario e os templos bem cuidados da cidade diocesana.

Como professora que foi que é (eterna), não importando as mais salas de aulas, por onde passou, transmitindo o saber, adentra na educação e diz: (…) Na educação foi destaque quando o acesso ao estudo era difícil para os jovens vindos do alto sertão. Nela encontraram respeitáveis mestres e ensino de qualidade. Tempo dos internatos: Cristo Rei (masculino). Colégio Santa Dorotéia (feminino) e o Seminário São José, robustecido de vocações para o sacerdócio (…).

E lá vai Maria, ou Zezita, ou Mazé, como Antonio Guinho a denominou, na sua oficina de construção de textos, descortinando cada pedaço da nossa terra Pesqueira, chamando-a de novo de Terra do Doce, lembrando o notável império industrial, das fábricas todas, dos operários todos, dos industriais todos, também, das safras, da fumaça das chaminés, tudo simbolizado pelo tempo de cheiros.

Declama: (…) A cidade tinha o cheiro quente adocicando o ar, lambuzando o olfato com a goiaba mexida nos tachos. (…)

Protestou, quando tinha de protestar: (…) o cheiro acre do tomate também se misturava ao do suor operário. Operário que, embora tenha honrado a dignidade de muitos lares, também espalhou o cheiro da injustiça social que experimentou. (…)

Ao mesmo tempo, em VITRAIS DA PALAVRA, soube a escritora pesqueirense elevar o encanto da geleia de goiaba e da goiabada, nobres sobremesas que atravessaram mares, alcançando continentes fazendo de Pesqueira uma terra conhecida e do seu povo uma gente respeitada pela pujança do seu trabalho.

Reconhecendo o crescimento das nossas indústrias e a importância disso tudo. Disse à fl. 76: (…) O crescimento do parque industrial – Fábrica Peixe, Rosa, Tigre –, ofereceu à terra elementos que a distinguiram das demais localidades vizinhas e levou o nome de Pesqueira a distantes regiões, inclusive para o além Brasil (…).

Com cara de tristeza por certo, escreveu sobre a decadência da terra-mãe: (…) A decadência aconteceu, tirou a característica de Cidade do Doce e nada mais resta daquela doçura. Só a que permanece na lembrança dos que fizeram parte da história. Por isso, alguns saudosistas conseguiram que a sirene onde funcionou a Peixe continue a tocar nos antigos horários. Toque inconfundível de uma época. Tocou para ficar.

Na mesma página 76, Maria José Torres Klimsa, por certo, voltou a sorrir. Se as fábricas fecharam, se o doce de goiaba e o extrato de tomate não exalam mais os seus cheiros, se os bueiros não expelem mais as suas fumaças, se as ruas perderam o colorido dos macacões vistosos dos seus operários, resta-nos viver, com a devida benção de Santa Águeda, uma nova fase, a da Renda e a da Graça, como conta Mazé: (…) Cidade da Renda Renascença. Renda que aí se firmou graças a qualidade do trabalho das artesãs que têm enobrecido a terra com o esmero de suas produções, dentro e fora do território nacional. Por último, o batismo de Cidade da Graça devido ao santuário dedicado a Nossa Senhora, no Sítio Guarda, Cimbres, alto da Serra do Ororubá, e para onde se deslocam constantes romarias. Nessa região privilegiada pela natureza, Maria teria aparecido a humildes serranos, conta a tradição. (…)

Queridos leitores de Canetadas

No livro “VITRAIS DA PALAVRA” Maria José Torres Klimsa, vai e volta quantas vezes vai e volta, percorrendo a trilha do aveloz, do cipó, que dá passagem ao seu chão primeiro, a Fazenda Santa Fé. E quando vai e volta com os seus pais e irmãos, carrega em si, como a madrugada, a aurora que, ainda hoje, sinalizou o cantar dos pássaros, o cheiro do esterco vindo dos currais, os seus mistérios, que ela guardou consigo, para desenterrar mais tarde, no agora, no hoje, no sempre.

Ora, na Fazenda Santa Fé, não esqueceu nem mesmo Maçunila (págs. 55/57) para sobre ela contar alguma coisa…, “Meus primos, angu? Nem no céu!”.

Lindo! É a isso a que chamo de ornamento da palavra, que lhe dá sentido e forma, beleza, buscando sempre o baú das coisas guardadas. E as coisas guardadas na memória do baú de inteligências mil da autora de “VITRAIS DA PALAVRA”, são buscadas em um passado distante, ou quase que distante, porque vividas na menina de ontem, ou quase de ontem, de sempre.

Zezita, em “VITRAIS DA PALAVRA”, faz uma convocação geral, sentimental; vão todos buscar os seus pedaços de histórias: as suas fantasias, ou contos, ou escritos, ou poemas, mas não deixem de contá-los, de senti-los, de revivê-los, de vivê-los novamente. É lá atrás que está o hoje, com certeza o amanhã. Ninguém vive sem os apegos ao ontem, sem o carinho eterno do pai e da mãe, da velha casa em que nasceu do dividir o berço com quantos sejam os irmãos.

Zezita assevera com a autoridade de mestra, de escritora e poeta (não gosto do termo poetisa…), agora maior, depois do reconhecimento de Antonio Guinho e Djanira Silva:

(…) Comecei, então, uma viagem de retorno a casa-mãe, não mais levada somente pelo desejo de descrevê-la, mas revivê-la. Percebi o quanto dela trago comigo: “suas relíquias e lembranças” (…).

Estimados leitores de Canetadas

E assim vou ficando por aqui. São 152 páginas numeradas, em frente e verso, do livro VITRAIS DA PALAVRA. Já as li e reli. Recomendo. Esse livro de Zezita é fruta braba, é coisa rara de acontecer. Ele dá caldo grosso que serve para desentupir as artérias mais fechadas do coração de qualquer pesqueirense.

Sobre Zezita Torres

Maria José Torres Klimsa é natural de Pesqueira/PE. Bacharelado e Licenciatura em Letras, Formação Psicanalista. Atuou como professora da rede estadual e particular. Participou da Oficina de Textos de Antônio Guinho. Trabalha com revisão e oficina de textos. Publicações: Jornal Nova Era (extinto). Coloniano e Pesqueira Notícias – veículos de comunicação dos pesqueirenses. Comunica, jornal virtual do Tribunal de Justiça de Pernambuco. Ação Paroquial (extinto), periódico da Paróquia da Madalena, Recife/PE. Fez parte da pesquisa na obra Lusíadas no Recife, de Joel Pontes, Gabinete Português de Leitura. Coautora em Contos de Natal, Editora Nova Presença (2003) e linguagens, interfaces com a língua, a literatura e a cultura, Libertas Editora (2013). Com Antônio Teixeira Torres publicou a obra biográfica Padre Olímpio Torres – pelas veredas da Serra, Libertas Editoras (2009).

Essas Canetadas têm muito de especial, porque a publico hoje, 19/07/2017, dia da posse da escritora Maria José Torre Klimsa, na Academia Pesqueirense de Artes e Letras – APLA, pelas 20 horas, no Salão Nobre do Hotel Cruzeiro de Pesqueira.

Parabéns a minha querida conterrânea, amiga e professora Zezita Torres, agora imortalizada pelas letras.

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JURANDIR CARMELO
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