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Roberto Dinamite morre ao 68 anos, no Rio

Roberto Diamite
Roberto Diamite Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

O Globo — Rio de JaneiroTamanho do textoAAAhttps://audio10.audima.co/iframe-later-thin-magazine-audima.html?skin=thin-magazine&statistic=true

Carlos Roberto de Oliveira, o garoto que um dia explodiu no Maracanã, faleceu neste domingo, aos 68 anos. Dinamite, um dos maiores goleadores do futebol brasileiro e mundial, sofria de câncer, descoberto no começo de 2022.

Nos últimos meses, enquanto tratava a doença, recebeu homenagens do Vasco. A maior delas, uma estátua de bronze no gramado de São Januário. Um justo reconhecimento, ainda em vida, ao maior ídolo de sua história.https://05db4e3371c09ac4c9b9e393519441f6.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html

Sua biografia exige reverências que extrapolam o status de lenda entre muros da Colina. Roberto Dinamite, jogador entre 1971 e 1992, abandonou os gramados como o maior goleador da história do Campeonato Brasileiro e do Campeonato Carioca. Três décadas depois de sua aposentadoria, segue imbatível na artilharia absoluta das duas competições.

Mais do que um finalizador

O apelido surgiu ainda no primeiro ano como profissional, quando manchete de jornal noticiou o primeiro gol da carreira chamando seu autor de “garoto-dinamite”. De fato, o atacante explosivo se notabilizou pela qualidade na finalização. Com os dois pés, de cabeça, dentro e fora da área, Roberto tinha recurso que o credenciou a acumular duas artilharias do Brasileiro e três do Carioca. Em 1981, foi o maior goleador do país, com 62 gols na temporada.

Isso não significava um atacante trombador. Dinamite foi um exímio cobrador de faltas, o que exige mais do que apenas força. Ao longo da carreira, soube envelhecer e se adaptar taticamente a isso. Na segunda metade da década de 1980, o camisa 10 já grisalho recuou para armar jogadas para um jovem atacante que despontava na época: Romário. E fez isso muito bem. Juntos, foram bicampeões cariocas, em 1987 e 1988.

Um dos maiores erros que a história pode cometer é restringir Roberto Dinamite ao Vasco. O atacante teve sua trajetória quase toda com a camisa do cruz-maltino, mas seus feitos extrapolaram o vínculo a um clube só. Ele é o segundo maior goleador do Maracanã, templo do futebol mundial, e protagonizou partidas históricas no estádio. Foi nele onde conquistou o título brasileiro de 1974, contra o Cruzeiro, onde, em 1976, marcou um dos gols mais bonitos da história do futebol brasileiro, em que matou a bola no peito, deu um lençol no zagueiro Osmar, do Botafogo, e finalizou de voleio. Foi no Maracanã lotado onde reestreou pelo Vasco em 1980 depois de passagem curta pelo Barcelona e marcou cinco gols na goleada de 5 a 2 sobre o Corinthians.

Dinamite faz parte de um rol de atletas muito seletos: foi artilheiro da seleção brasileira em uma Copa do Mundo. Na Argentina, em 1978, saiu do banco de reservas para fazer três gols e ser peça fundamental na campanha que terminou com o terceiro lugar.

Dissabores

Apesar do apelido explosivo, Roberto Dinamite foi pessoa de temperamento fácil. Via de regra, figura de sorriso largo, carismático. Não à toa, depois de encerrada a carreira como jogador, virou político e conseguiu emplacar mandatos no Legislativo do Rio.

Porém, três passagens marcaram sua vida e mexeram com esse espírito leve. O desprezo de Telê Santana, que o levou para a Copa do Mundo de 1982, mas não contou com ele nas partidas, foi uma mágoa que carregou para o resto da vida. Ele vivia o melhor momento de sua carreira, mas foi preterido.

Dois anos depois, sofreu outro baque, muito maior. Perdeu prematuramente sua primeira esposa, Jurema, figura conhecida no futebol carioca por ser a mulher e também empresária do craque. Ela padeceu de complicações de uma hemodiálise e o jogador se desdobrou para seguir focado no campo. Conseguiu levar o Vasco rumo ao vice-campeonato brasileiro daquele ano. Ainda foi o artilheiro daquela edição.

Outra passagem de sua vida que lhe tirou o sorriso do rosto foi a presidência do Vasco. Mais precisamente, o segundo mandato. Dinamite, ídolo incontestável como jogador, passou a conviver com fortes críticas da torcida, cobranças da imprensa, e a política tóxica de São Januário. Deixou a cadeira desgastado, com a imagem arranhada, algo que só com o tempo foi recuperado. Mas sempre que questionado, admitia se arrepender de ter permanecido na presidência depois dos três anos da primeira gestão.

Símbolo de dias melhores

Dinamite foi o maior símbolo dos melhores dias do Vasco, de um time que arrastava multidões pelo Brasil, torcedores ansiosos pelo próximo título carioca ou do Brasileiro. A massa segue atrás do cruz-maltino, mas hoje se preocupa com rebaixamentos ou retornos à primeira divisão.

O atacante protagonizou o auge do Clássico dos Milhões, nos anos 1970 e 1980, de partidas para mais de 100 mil pessoas no Maracanã, opondo o Vasco de Dinamite e o Flamengo de Zico.

Eram dias de muita rivalidade, mas também civilidade. Roberto Dinamite e Zico lideraram suas equipes em duelos históricos, mas mantiveram o respeito mútuo. Em dias tão nervosos quanto os de hoje, mundo se encantou com as demonstrações de carinho entre os rivais Rafael Nadal e Roger Federer, na ocasião da aposentadoria do tenista suíço. Pois Dinamite foi daquelas pessoas queridas até por rivais. No seu jogo de despedida, contou com a presença de Zico ao seu lado, vestido com a camisa do Vasco para prestigiar o amigo.

Roberto Dinamite explodiu ao longo da vida e hoje virou estrela. Como diz o hino do Vasco, que tanto tocou por sua causa, no céu a brilhar.

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